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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

I told you... I was trouble!

Ainda faço uma dieta com uma outra receita e mando, com certeza, 1/3 do meu santo embora pelo outro lado do canudo... anote aí:

- meia chícara de muito dinheiro;
- algumas noites de insônia a gosto; e,
- 300g de nervos de aço

Agora põe pra ferver e pronto!






bigbigbgibgibigbigibgbigbigbigbigbigbgibgi troubles

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Silêncio

Meu silêncio tem um preço: inestimável como desgosto de beijo azedo;
E uma consequência óbvia, quando calo, o mundo escuta.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Vã filosofia

Mais uma tirada do antiquário. Era quase uma oração, andava meio esquecida e empoeirada ali nos cafundós... justamente por isso, postada.



Seja de bom espírito e generoso com os que o cerca.
Não acredite em verdades mal contadas, nem em mentiras benditas.
Todo ser humano desesperado torna-se um inconsequente deslavado - mormente quando não satisfeito.
Assim, contenha as palavras e seu desespero, sua vã filosofia e as arestas do que já foi dito em vão.
Brigue e exija sempre a verdade... desde que esteja disposto a sempre andar de mãos dadas com ela.
Lembre-se: a espada que te defende é a mesma que pode lhe ferir.
Aprenda a, não só dizer, mas também aceitar, o Não - é tão difícil para quem ouve, quanto para quem o diz.
Seja bravo e persistente, mas não insista ao ponto de se tornar tolice.
Observe com os olhos de quem o cerca e não julgue precipitadamente.
Encare os desafios sem fugir dos que lhe procura.
Conheça suas fraquezas, mas não as propague a ninguém, principalmente para si.
Quem muito fala, pouco pensa. E quem muito pensa e não fala, um dia explode.
Sorria diante da inveja.
Não se preoculpe com uma eventual má reputação, mil vezes isso a uma má consciência.
Abra um vinho numa madrugada de terça-feira e seja feliz mesmo na companhia do silêncio.
Não esqueça as vinganças, nem esqueça os motivos.
Tenha paciência, a hora certa chega sem se perceber.
Escolha bem os que te acompanham e aconselham, mas poupe, momentaneamente, aqueles que buscam incessantemente isso.
Supere-se e não se deixe incomodar quando parecer bobo, a esperteza é um sorriso ardendo no canto da boca.
Arranje tempo para admirar os inimigos.
Seja leal aos seus princípios.
Beije. Abrace. Ame. Grite.
E a quem não se gosta, nem dirija a palavra.
Dance com o coração, nem que seja sozinho.
Tire um dia de folga. Mude a rotina ao menos uma vez na vida.
Medite um pouco e tente se encontrar. E se não conseguir, ao menos não se perca tanto.
Respeite os mais velhos. Escute-os. Tente não cometer os mesmos erros.
Cresça com os erros. Até mesmo o pior deles te ensina algo.
Enxergue além de sua inocência.
E, por fim, seja feliz.


"[...] - Você pode ir pra cozinha brincar com o pintinho.
- Eu...? perguntou sonsa.
- Mas só se você quiser.
Sei que deveria ter mandado, para não expô-la à humilhação
de querer tanto. Sei que não lhe deveria ter dado escolha, e então
ela teria a desculpa de que fora obrigada a obedecer. Mas,
naquele momento não era por vingança que eu lhe dava o
tormento da liberdade. É que aquele passo, também aquele passo
ela deveria dar sozinha. Sozinha e agora.
Ela é que teria de ir à montanha. Porque - confundia-me eu -
por que estou tentando soprar minha vida na sua boca roxa?
porque estou lhe dando uma respiração? como ouso
respirar dentro dela, se eu mesma... - somente
para que ela ande, estou lhe dando os passos penosos?
sopro-lhe minha vida só para que um dia, exausta,
ela por um instante sinta como se a montanha tivesse
caminhado até ela?
Teria eu o direito. Mas não tinha escolha. Era uma emergência
como se os lábios da menina estivessem cada vez mais roxos.
- Só vá ver o pintinho se você quiser, repeti então
com a extrema dureza de quem salva."

(A Legião Estrangeira - Cla Lis)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Mongbert e o Baile de Máscaras

Nessa minisérie do bem... ou do mal, ao fundo, sentia-se aquela vibração estonteante ("ando, meio desligado, eu nem sinto meus pés no chão... olho... e não vejo nada..."), como se reencarnasse Gaia em um paradigma bem comum.
Estávamos todos embriagados, espremidos dentro do saguão aguardando o abrir das cochias em meio ao furdunço do outro lado. Olhamos entre as brechas que nos dão acesso à platéia e não vimos ninguém, vamos continuar!
O espetáculo se passaria num tempo distante em meio a juventude largada, lutando por todas as liberdades que temos agora, e não era preciso mais ninguém para aplaudir, o espetáculo se daria ao passo que conquistássemos novos dissidentes.
Nos verões, não havia lugar para ir, as praias, sem acesso, já estavam agora todas repletas de turistas intransigentes e amaldiçoados, conservadorezinhos de merda que chegam para esculhambar mesmo.
E o buon apetit!? Não vinha nem escondido!
Assolavam a Residência do Baile de Máscaras, todas as barafundas que não se via por trás das cochias. Tudo muito elegante e mal intencionado, diga-se!
Os açoites, as veras mal engendradas, o pretérito todo imperfeito, mal resolvido e largado ao esquecimento; e assim, passariam os anos naquele longo inverno de chuvas caudalosas, os passarinhos, cada qual em sua gaiola.
A falta de fazer falta já fora substituída pela falta de ser feliz: o pierrot, pobre coitado, fatídico! mas desta vez, não iria mais a baile algum, nem aí, criatura viscosa que se rasteja tranquilamente sobre o lixo: ali não pertente, ali não o importa.
Muito vagarosamente vai se encontrando entre linhas e pontos e crucifixos, tentando achar seu lugar sob o âmbar, um pouco mais afastado do centro do palco, porque também gostava de ver.
Foco, a cigarreta desempenhando seu papel com fidelidade, a fumaça levemente espirada, o silêncio diante de tanta elegância ("...eu não vejo a hora de te dizer, aquilo tudo que eu decorei...")... a força de um olhar, e tudo viraria estátua e todos dispostos a apreciar.
Logo depois do ocorrido em Madre Sant'Monica não foi preciso sair, pois uma vez que já se está fora, sair mesmo, só por formalidade.
Estariam presos, não fosse uma pena que caísse sobre a mesa.
E assim foi, assobiando sua música favorita, o nobre Mongbert seguir rio a cima, em busca do que só iria para comprovar: não havia máscaras que lhe servisse e, por isso, o Grande Baile, não era o seu lugar.

terça-feira, 16 de março de 2010

Sobre amor e silêncio

Oi?


Preciso começar assim mesmo?

Pois bem, te esclareço desde logo que isso não é uma carta de amor ou de desculpas ou para tentar reconciliar algo irreconciliável; portanto, não guarde expectativas.

Na verdade, na verdade, acho que é muito mais uma reflexão a respeito de “tudo” que aconteceu entre “nós”. Sim, “tudo” e “nós” entre aspas mesmo, porque não sei bem ao certo se existiu alguma coisa de verdade, se existiu não chegou a ser tudo... e, além disso, não sei se vale dizer “nós”, já que nos tornamos eu-e-você juntos – tá, tudo bem que isso possa ser “nós”, mas o dicionário não entende nada além do simples “nós” (1 Designa a primeira pessoa do plural de ambos os gêneros e serve de sujeito ou regime de preposições. 2 Emprega-se pelo singular, quando alguém fala como órgão de uma coletividade, ou quando o escritor, por modéstia, quer tornar menos saliente a sua individualidade... entende?).

Para o começo te digo somente que é uma pena... finalzinho trágico dessa eu-e-você história! Bastante cinematográfica mesmo! Votemos a cena:

- o casal... não, o casal não, os dois, que não eram mais “nós”, tiram as malas do carro, tentam descarregar as bagagens da carroceria do carro, ele espera ajuda, ela o apressa, quer as malas dela primeiro, logo aquela mais ao fundo, retira seus pertences de dentro do carro, ele entrega as bagagens dela; com seus pertences nas mãos, ela o olha.

Ele: você vai ligar pra alguém vir te buscar?

Ela: (silêncio)

Ele: (interrogação)

Ela: (some indignada)

Ele: (pensa que ela foi embora)

Ela: (vai para o térreo e chora indignada)

Ele: (retira todas as outras bagagens e sobe para o apartamento)

Ela: (deixa as malas no térreo e sobe para o apartamento, ainda indignada)

Ele: (que já tinha jogado a toalha, congelou ao vê-la)

- ela pede o telefone e liga para a mãe que não pode ir buscá-la; ele se oferece para levá-la em casa, ela aceita. Eles descem depois de alguns minutos e entram no carro.

Ela: liga o som (ele liga e ela já aumenta o volume)

- silêncio. Eles param na porta da casa dela.

Ele: depois eu trago as outras coisas.

Ela: que coisas?

- ela desce do carro e a conversa continua enquanto ela tira as malas do banco traseiro.

Ele: os doces, vou separar também um pernil pra trazer pra vocês...

Ela: (interrompendo) meu casaco está dentro da sua mala...

Ele: (interrompendo também) eu deixo junto com as outras coisas... quer ajuda? (com as malas)

Ela: não.

- as portas do carro se fecham, ela atravessa a rua puxando a bagagem, ele acelera e vai embora.

Sabe, agora refletindo sobre tudo, acho que sempre houve entre eu-e-você um eterno silêncio, como aquele silêncio que sempre incomoda. Acho até que a gente se ama tanto que não nos suportamos com tanto amor.

Amor, amor, amor... esse sentimento tão nobre que sufoca, oprime mas encanta. Tudo mágico e encantador com jantares a luz de velas e vinho e amor... como duas crianças que se apaixonam pela primeira vez e como tudo que é bom, também agarrou, sugou e beijou como ninguém. Nós gritávamos de amor, e era visível nos nossos olhares sorridentes, tão carentes de amor, e tanto amor, e tanto amor que o mundo ficou minúsculo pra nós dois. Era sim, pequeno de mais para nós, os dois que eram um só. Chego a ter saudade disso.

Mas teve um momento... em que alguma coisa aconteceu e nos tirou da nossa órbita. E o que é que pode acontecer pra nos levar aonde chegamos hoje? Como se abala um amor inabalável? Ou não é amor, ou esse tal amor era muito frágil, ou não havia nada disso, de amor.

Nem tudo pelo caminho são rosas, nem toda rua tem pedrinhas de brilhante e não é todo amor que passa por ela. Lembra quando a gente falava que iria se amar pra sempre... quando seria isso? Fomos tão intensos e magníficos que não precisou dizer que terminou... o que pode significar que jamais terminaremos e que também jamais ficaremos juntos outra vez. Acho que o nosso “sempre” era isso... sempre um do outro sem deixarmos de ser eu-e-você mesmos.

É assim que acontece com os astros. Nascem com uma explosão, e vão se enchendo de luz. Aí chega uma hora que ele tá tão iluminado mas tão iluminado que explode – e daí não nasce mais nada, só poeira. Nossa última explosão foi o silêncio.

Eu senti, e você, sentiu também naquela hora que você desceu do carro? Realmente o silêncio falou mais que qualquer palavra. Por sinal, não acredito que exista uma que possa definir tudo ou o nada que passou – se é que passou. Mas se ainda é, é bem miudinho como essas letrinhas aqui, dançando no papel sem pensar.

Aí eu vou caminhando pela casa e começo a recolher tudo que me lembra você, tentando rasgar seu cheiro impregnado na parede do meu quarto, retirando suas roupas de perto das minhas e apagando as nossas fotografias para que nada de você fique no meu caminho... porque eu quero continuar amando e eu não posso deixar você me atrapalhar com essa presença ainda tão forte aqui.

E já que eu não pude te deixar nada de bom, te deixo aqui o meu melhor... as minhas palavras. Como você vivia dizendo que eu nunca te escrevi nada romântico, nem uma carta, nem um bilhete de amor, te deixo esta carta como prova de tudo ou nada que existiu entre eu-e-você; porque amor, quando é demais, não acaba, silencia – exatamente como esta carta.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Louco por você

Porque decidir viver assim?
Sem se entregar com toda força que se pode deixar?
Porque resistir tanto, se deixar apegar a todo esse prazer e melancolia que só a solidão pode oferecer?

Gostaria de te ver assim em minha memória,
assim no ar, correndo livremente deitada,
sem que minhas mãos pudessem te ver.

E assim, seria mais completamente intocável que a leve e tênue sensação de não morrer ao teu lado, para que tudo fosse tão perfeitamente planejado sem que o criador de tudo isso não me instigasse a ver um futuro melhor.
Ou que simplesmente decidíssemos viver toda essa energia, cósmica, brilhante que de tanto encanto não nos deixaria levantar desse desejo penetrante de um olhar.

Só um olhar.
E mais nada precisaria ser dito, nem pensado, e nem tocado.
Porque tenho você dentro de mim, ainda que por toda distância, ainda em meus pensamentos.
E como não querer morrer nessa adorável sensação?
Porque resistir trancado em si?
Liberto tudo que me prende!
Sou em suas curvas, em silêncio, esse arrepio, o medo que há antes de uma decisão;
sou quem você esperou durante toda existência e agora encontra conforto em cima de mim.
Porque somos o som do próprio romance, próprio, aguardando seus protagonistas;
somos aquele preço alto que muitos anseiam, e não tivemos que pagar absolutamente nada.

Eis que o próprio amor se apaixonou por essa combinação inusitada e invejada que nem se espera!
E até mesmo o próprio tempo confuso ficou;
nem entendeu como algo assim que transcende a sua própria dimensão se encontrou.

E não haverá quem ouse entender ou decifrar tamanho mistério;
até mesmo o desejo de que tudo aconteça é incerto e não crê em nada que esteja antes ou depois dele mesmo...

Pois somos a união de tudo que jamais existiu, porque atravessamos todos os mundos para sermos perfeitos aqui, e eternamente.





*maio/2009

quinta-feira, 11 de março de 2010

Enganando

Estou aqui lendo pra passar o tempo e não te perseguir por aí em pensamento.
Inconscientemente aguardo você subir pelo elevador: 7º andar
arrombar esta porta e se jogar em cima de mim;
enquanto eu aqui me engano e finjo não sentir dor só em pensar quando domingo a noite chegar: colchão jogado na sala, travesseiros espalhados, filme no teto, pipoca e “refri” sem você aqui pra eu deitar e agarrar e te matar arrepiada de tanto beijar...
é, eu iria te beijar todinha, e eu sei que se for do jeito que eu estou aqui pensando você não teria como não gostar...





pretérito mais que perfeito, apesar de toda imperfeição =)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Coração leviano

Ah! coração maldito
que inventa de me derrubar
no meio de um dia sofrido

Queria que não fosse contigo
e, já te adianto,
para não fiques bravo comigo

Sofro de uma sofridão tranquila
mas que me agonia
como no dia marcado com a morte morrida

E tenho tanta raiva
porque bates aqui dentro de mim
que decido te abandonar nesta casa

Vou te desprezar

sem nenhuma dor declamar
vou deixar suas malas no meio da rua
pra você nunca mais voltar

Aí no meio desse hoje
vou te fritar e te regrar,
adicionar algo bem doce
e, quando você estiver no auge da animação,
vou te dar um tiro silencioso
daqueles bem dados
pra te chupar até a marca do gozo

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

sintoma

amo com tanta intensidade
que me fogem as palavras

quarta-feira, 1 de abril de 2009

incerto?

Eu desenhei uma borboleta que apareceu numa carta que continuei escrevendo, a carta que era para mim; ganhei mais espaço num papel de seda e acabei ganhando mais espaço para mim; criei meus sinais e enlouqueci na ausência de um meio que me fizesse ser.
Havia ganhado o presente: voltei ao passado e vi que do outro lado é diferente, não é assim que segura, lá é tudo música de antigamente e flashes "não olhe que cega". Era tudo muito engraçado, era um sapo. Voltei. Senti que esse é o meio, porque o fim está logo ali no fim dele próprio. Um adeus, a falta. E agora? Não sei se vou aguentar dizer, mas isso não é tudo.









# escrevi isso há muito tempo, tanto tempo que não lembro a data, nem aonde foi; mas escrevi num guardanapo velho e rasgado, e guardei dentro de um caderno onde desde muito muleque escrevo coisas tão sentimentais que chego não acreditar que fui eu que escrevi; e só estou transcrevendo aqui, porque o papel está quase apagando e rasgando... então, para preservar o conteúdo de uma insanidade aleatória...

quinta-feira, 26 de março de 2009

o quarto

Minhas idéias pairam no ar de um quarto escuro, digladiando entre si, ao meu redor. Cardume de peixes nadando no ar; movimentos sinuosos e repentinos. Desordenação coordenada. Imagens e sons e sentimentos e instintos todos em sinfonia para este ser que observa.

E a luz, meu caro? Me questiono incessantemente. De onde vem essa luz? Que iluminam os pensamentos; que ora aceitam e ora negam as próprias verdades, embora também façam cristalinas essas mesmas (in)questionáveis verdades; intransponíveis obstáculos que aceito tão pacifica e mansamente.

Não é deste ínterim a ignorância; entre estes tantos fragmentos que assolam o e bombardeiam este ser; me faço valer também de escolhas. E se em favor delas aqui cheguei, é que assim o quis.

E não há dentre tantos mistérios neste quarto, sequer um que ainda não tenha desvendado - mesmo que não o saiba. Porque sou o próprio caminho, a verdade e a vida.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Transeunte ativo direto

A vadia corria solta como uma murimba em pé de dia doido! Em nome do pai, do filho... e de todo mundo! Entrou na roda, é pra se lascar! Certo dia a tarde, cá estava uma menina sentada na calçada, era de dar dó; enquanto eu passava, ela me olhava, cheia de lágrimas escorrendo, empoçando no chão... e tudo que ela queria era só me fazer um boquete! Hên-hên... bichinha!
Antes de chegar em casa, pus a mão no bolso – queria as chaves do meu coração. Pelo menos por duas horinhas que fosse. Ia te amolar tanto, fazer tanto denguinho pra te ter sorrindo ao meu ladinho. Dia “D”! é hoje, amanhã ou depois! Nunca mais fui o mesmo! Arrasa quarteirão que vem guerra no esquadrão.

Estabiliza.

Hoje-amanhã-e-depois – aí saudade da chuva no telhado... aquele silêncio calmante; a arte do essencial! Saudade de caminhar na chuva, de brincar de se deixar molhar; abrir os braços e sentir os pinguinhos no rosto. O inverno se aproxima e já posso sentir o ar úmido e o cheiro de terra e mato. Mas ainda é verão nesta merda! Já posso até salivar só em pensar. O mundo em mim. Aqui onde tudo é mundo. Mundo, mudo, mudo, mundo inteiro pra mim. Ali mesmo, mergulhado, imerso e de olhos fechados – a chuva caindo – aquilo é o mundo de efeito universal. Sou escoado no ralo do mundo porque não vejo, não sinto, não sou e ao mesmo tempo sou tudo isso com um pouquinho de limão e tequila.

O universo em volta e meia. “Atenção para o top de 5 segundos...”. Acabou. Parou por acabar. O padre não tem filha, não sabem como é! Bem que podia ser aquele filho da puta a engravidar – “Atentado violento ao pudor: padre emprenha pelo cú (óbivil!) após ser violentado pelo Papa”... e o canalha vai se rasgar só para não ser excomungado. Puta que pariu! No ministério, ele assumiu. O bom filho a casa retorna, mas veja lá! Não vai confiscar minhas economias de novo, meu! Já não basta morar num campo de guerra? 233 é o saldo até hoje e tem gente que pensa que está abafando... filho, acorda! Aqui é o samba do crioulo doido!

Ah! Oi! Por aqui está tudo bem! As moscas estão voltando para a sopa... e não adianta matar uma, Raul já prevenia! Maravilha nas fotos e o fedor nos ares. A revolta da taboca! “Pega-bebo abre 5 vagas para vigilante de bebado-que-dorme-sentado-em-bar: paga-se bem”. Aniversário de 15 anos da Hebe Camargo... “gracinha!”. Garotinhos juvenis nas ruas e nos blogs são os donos das verdades falsificadas. Bem, pelo menos abraçaram as suas causas... lamentável firmamento!

Minha língua beijando portuguesa. Desejo de ser teu objeto direto! Te acalentar indiretamente sobre minha cama, nós, pobres sujeitos, adjetivados, obrigados a tudo isso! Fazendo concordar tudo num breve espaço de tempo, ainda que passageiramente. Nomino um verbo. Transeunte ativo direto. Trago-te minhas mágoas, passivas e imperfeitas, sobrestadas a minha existência sem nada poderem fazer para se livrarem deste carma que será me ter perto de si.

Tudo. Quero. Manhã. Café. Suas curvas em mim. Adeus anfetaminas.

Minhas orações diante desse espelho cego, sem lado de lá, mendiga minha presença esparramada nesse bolor de paixões e arranhões e cabelos repuxados, sem dia por vir, sem amanhã esperar ou qualquer coisa louca que venha me abalar.

Não sei não. As vezes, eu podia sumir sem deixar de existir. E também...Tenho fome e quero tesão no jantar e quero uma sopa de sentimentos pairando no ar. Estou de férias e só quero saber de pensar, depois de amanhã.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

entre linhas

agnome,
no verso imperfeito que ainda sim se perfaz poesia,
a ausência incômoda de um só adjetivo;
sou o verbo que não se conjulga.
sou perfeito no subjuntivo,
e sou o mesmo sujeito
de uma oração coordenada subordinativa,
tão destrambelhado entre as orações
que elas mesmas sequer rezam por mim .
mas creio num pretexto
daqueles que se utilizam antes do começo de qualquer texto,
iniciado em maiúscula;
e como num salto de alegria
feito no encontro escondido - preposição e artigo,
venho à Romeu e Julieta,
sugerido entre vírgulas
se fazendo explicar dentro de mim

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

vagando

guardo em mim
tudo que ainda não desisti
tenho o gosto amargo de mais um cigarro
o sonho derrubado
o castigo miserável
o desejo mal amado
e tenho todos os segredos e mistérios guardados

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Pro meu 'Docin'

"se tiver chorando
ligue pra mim!
vi?
e tome um beijin prá ti!
que é prá rimar com os rin
já que num tô perto de quem come capim
apois Eu é que num vô ficá burrin
mai quero só uma coisa desses peitin
que é tão lindin
que nem quando é bem de tardin
e a gente óia o vôo dos passarin
sem eles se queimá na frente do solzin
axo tão bunitin
sas duas coisin
que de tão grande quase bate ni mim
e esse bixin
que bate tão assim
tão perfeitin
mai parece o balançado duma frô de jasmim"


*pra minha pequena red dragon

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Virgem de novo

sim!
sejam bem-vindos!
a uma realidade sarcástica
de brincadeira de pega-pega
onde todos correm sem parar

quando saio daqui
vem o palhaço tentar roubar meu lugar
mas, acho que não ouviu falar
que o lugar de gente que não morre
sempre irá ficar

e nem tente me espremer
porque, no auge do seu desespero
é que não tens como se conter
e aí...
nem me conheces mais
porque a criatura
virou criador
e o que tudo era
agora modificou
- a lembrança, é algo que foi
e imutável ficou, estática, no tempo
sem progresso ou evolução: uma dor
saborosa do que foi e não mais é;
porque tudo que é a mercê do tempo,
petrificar-se-á para quem não quiser andar -
agora, aqui, eu não estou mais
e de onde as lembranças me alcançam
já saí há tempos

criaturazinha vulgar
que encara num profundo olhar
destemido e segregado
filho de si
auto-parido
semente que brota sem regar
e se faz, por si só, no próprio ar

só me devo respeito
como algo que agora É
e Sou
e Serei
tão presente
quanto essa ausência que tu sentes

e respeito, e paz, e ternura
sigam sempre em frente
como vossos princípios
que voltam triunfantes do vale das sombras
renascidos, irreprimidos e fluorescentes
rasgados, cicatrizados e sujos
puros
perseverantes

nesse reencontro
sinto a terra molhada sob os pés

mesmo que tudo pareça igual
começo a sentir porque ainda sou diferente
independente de sol ou lua
quando fecho os olhos
e me banha a chuva novamente
lembro-me de quem sou:
vejo sorrisos contentes

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Se não houver um amanhã (conto)

Hoje amanheceu, e o céu está brilhante. Fui contagiado por uma imensa alegria matinal que mal deu tempo de pôr os pés no chão e já estava quase pronto para um novo dia. Uma maçã na cesta, um copo d’água, aquele prato ainda sujo sobre a cabeceira que fica ao lado da cama e aquela rotina lascada abre a porta e entra no meu quarto com toda força que tem, mesmo sem ser convidada, como sempre. Aí eu me lanço naquela velha coreografia matinal: cuecão verde, calça jeans básica, meias folgadinhas de tão velhas, camisa do tipo ‘começo de semana’, a barba mal feita – porque continuo acordando tarde de mais para dar um jeito nisso, aquele banho básico de perfume, pasta na mão, sorriso ainda despenteado combinando com esse cabelo “sarará crioulo” que não toma jeito nunca, aqueles sapatinhos velhinhos polidos nos pés e os pés na rua.
Pronto! Meu dia começou super bem hoje. Isso porque eu só estou trinta minutos atrasado para chegar ao trabalho porque o infeliz do prefeito decidiu realizar suas obras reeleitoreiras justamente na minha rua; e já que eu não tenho nenhum helicóptero para ir até a esquina, como ele faz, vou ter que ir na minha carruagem mesmo e por isso tenho que sacrificar uma hora inteirinha de sono para poder chegar uma hora atrasado ao trabalho e perceber todos me olhando de cara feia – apesar dos super sorrisos estampados na cara do pessoal. Bem, mas vou aguardar meia horinha a mais que é pra aquele caos de fumaça e buzinas diminuir.
E hoje eu estou muitíssimo empolgado, e adorando isso, mesmo que eu ainda não saiba o motivo real dessa agonia efervescente que eu estou sentindo por dentro e que me proporciona essa empolgação momentânea que, por pouco, não se confunde com felicidade. E isso realmente está me fazendo toda a diferença nesse dia, porque, para mim, todos os dias nos últimos meses já estavam parecendo iguais, sempre as mesmas sensações, os mesmos lugares, as praias, as mesmas pessoas nas ruas, nas praças, nos bares, nas calçadas; tudo parecia se repetir, as notícias nos jornais, os políticos, as crianças a pedir dinheiro nas ruas – e agora também os travestis. É. Pode soar estranho; mas parece que é sempre dezembro, véspera de ano novo, dia dois vai ser imprensado e na próxima segunda começam umas super férias com grana no bolso. Imagina, né! Euforia geral e descomedida.
Embora, sempre, sempre, sempre, no outro dia sempre rola aquele fardo pesando em minha cabeça, e aquela caminhada que não pára nunca. Aliás, ainda não sei o que significa parar nem o que quer dizer nunca – e olhe que eu não sou o único que não tem noção do que é isso.
Mas, enfim, hoje eu acordei e me senti bem e foda-se a ressaca moral. Após quarenta e oito horas de puro tédio, fim de semana alucinante: ir além do próprio limite. Sim, essas horas de terror interno, sonolência em alta, bolsa em baixa, olhos amarelados, nariz escorrendo até dizer basta – com um algodão lá dentro que é pra dormir legal; e tudo bem, eu já sabia que quarenta e oito horas depois tudo voltaria ao normal.
E o que seria esse normal? Relativismo. Vida pacata, caminhada na praia com aquela amiga que não pára de falar bobagens da moda, ou que inventou um sotaque diferente só porque foi visitar um amigo no sul, soninho após a novela das oito, festinhas depois da meia-noite, ir direto trabalhar, nada de álcool, todas as drogas, sozinho ou num gang-bang, olhar indiscreto, atento, procurar um amor fora de si, encontrá-lo dentro de si… a normalidade era só uma expressão, do tipo, formal. E digo isso porque eu gosto profundamente dessa alucinação constante, fora dos padrões de normalidade, de coisa espalhada pelo vento, sem destino certo, sem nenhum “até amanhã”, nem promessas ou vantagens indevidas; esse meu progresso a Deus dará, subversivo desde a raiz até o último fio da falta de juízo, com passos descompassados, em linha sinuosa, num rítimo de ressaca de maré; não há como não se apegar a esse Santo nos momentos de aperreio.
Mas a quem possa contagiar e para aqueles que se deixam contagiar, os dias estão contados a partir de agora. Nesse mesmo instante de pura calma e sabedoria, uma carta me invade a carne, uma batida na porta me avisa que a correspondência chegou, e ainda estou com aquele achocolatado entalado na garganta. E vem de um povo distante, de um lugar sabe lá Deus onde fica. E quem seria? Quem havia se preoculpado comigo enquanto eu, aqui, minha Tv, frigobar e poltrona, delirávamos abraçados e rolando no chão? Puxei uma fitinha branca que veio colada no verso e, pluft, aquela fumaça branca invadiu o meu recinto (sabe aquelas bolinhas de ninja que ‘explode, fumaça e desaparece’? Pois é, era mais ou menos assim – só que isso não aconteceu. Surtei. Brincadeira isso…)
Aí eu páro aqui sentado na minha cama, olhando além da janela e não sei o que fazer num dia como hoje. Imagine só, como num estálo hipinótico, recebo uma cartinha, de alguém que só pode estar querendo tirar um sarro da minha cara, e neste exato momento deve estar rindo horrores de mim, e essa carta escrita com aquela caligrafia de poeta medieval, vem me dizer que... ahn, deixa eu lerrrrr i-s-ssss-ooo aaaa-aaa-aqu-iii... não! ha-ha-ha! Alguém só pode ter piraaaaaado de vez! Não! Fala sério! Escuta isso, dois pontos: não vai haver um amanhã; já pensou?! Nã, nã, nã, nã, não! vou ser mais preciso, “...se não houver um amanhã?”. Só um minutinho que eu vou ali na janela... “quem foi o loooooooooooouco que escreveu isso? (isso, issssoo, sso, so, o – o eco!)”. Não gente. Brincadeira isso; já não basta toda vagabundagem terrena neste continente emergente e, algum indivíduo, bastante ocupado, por sinal, tem o desprendimento de me fazer uma honraria como essa? É muita vadiagem pra uma pessoa só! Dá licença!
Tssss... mas aí eu já não posso fazer mais nada, porque uma pegunta filha de uma mãe como essa, a essa hora, só pode ser brincadeira, e só para brincar também eu já começo a pensar o que eu vou fazer hoje, só hoje. Só pra entrar no embalo mesmo.
Bem, eu não estou muito confiante nesse apocalipse que chegou pra mim num envelope michuruca me deixando ainda mais confuso, e, exatamente por isso eu não sei que raios eu faria num dia como hoje. Mas só para brincar também, vou gastar cinquenta centavos do meu tempo com isso.
Num dia como hoje, sem amanhã; eu não vou receber nenhum pagamento hoje, então, nem aí para o trabalho; já que aquela desgraça não vai pra frente mesmo. Invés de meia hora a mais pra esperar o trânsito desafogar, vou tentar afogá-lo ainda mais por mais três horinhas.
Mas acho que eu prefiro ligar pra aquele velho amor que foi embora pra muito longe e passar o resto desse dia inteiro conversando sobre os caminhos que a vida nos levou, e vou ficar flertando com ela o dia inteiro no telefone. Como seria bom se a gente estivesse junto agora, deitados ali naquele sofá cinza escuro no cantinho mais escondido da casa esperando pra ver se o dia vai clarear amanhã; mas acho que ela deve estar muito bem no velho mundo pra poder me atender depois de quase uma década sem nos falarmos direito.
Ou não, melhor, já que essa idéia não se realizaria nem se hoje fosse o último dia, eu iria na casa de todos os meus amigos para lhes dar um forte abraço silencioso, sairia para tomar um sorvete, se ainda houvesse algum sorveteiro na rua, ou simplesmente caminharia na praia – ha-ha-ha, até parece que eles iriam topar um programinha tão light como esse caso fosse nosso último encontro, e olhe que eu não iria poupá-los de saber o que se passa hoje ou o que não se passará amanhã. E se eu não quisesse vê-los? Se todos eles já se sentissem abraçados e confortáveis por não terem compartilhado comigo uma notícia tão desanimadora, ou não, e se agora eu pudesse ficar em casa esperando o badalo do relógio soar a chegada do nada? Sozinho. Será que eu teria coragem de querer um amanhã? De desembainhar minha espada samurai e lutar contra um pedaço de papel metidinho a vidente?
Não sei se valeria a pena. Mas do jeito que as coisas andam, prefiro ver o lado bomdessa situação ridícula: não ter que acordar cedo, não ser obrigado a ver na Tv os políticos sempre roubando, metendo a mão no meu bolso – e colocando no deles, claro! – tirando a esperança do povo, a polícia não mataria mais inocentes nem tentaria achar nada nos sapatos alheios, ninguém reclamaria mais de fome, nem de doenças, nem que falta dinheiro, nem teriam mais peruas que não sabem com o que gastar tanto dinheiro – o nosso dinheiro. Poderia até ser legal isso mesmo, sabia? Aquelas pragas de nariz em pé desfilando na beira-mar com aquelas malhas enfiadas no cú, silicone espalhado pelo resto do corpo, não teria mais reuniões fúteis durante o chá das seis para se falar da crise no casamento de mais ninguém; sem confusões, sem transições, ninguém sofrendo… iam-se embora todas as mazelas mundanas insuportáveis desse terceiro mundo e todo o povo que o manipula. Acho que eu estou até começando a ficar aliviado com isso. Olha só! Que notícia boa me veio essa manhã. Tudo o que eu tenho de mais insuportável se vai! Em mim e no mundo! Estou quase tendo um orgasmo aqui só de pensar no Congresso Nacional vazio... se bem que o “se não houver um amanhã” já começou há muito tempo por lá, mas o nada de amanhã vai servir só pra oficializar a parada.
Mas e aí… por quanto tempo eu iria sobreviver se o hoje se fosse? Pode até não haver um amanhã – e isso é um pessimismo fodido, porque o depois de amanhã provavelmente também não vai haver – não vai ser como um dia inteiro dormindo, sem sair do quarto. Sabe quando a gente se ferra, mas daquelas ferradas fuderosas e o desespero só dura quarenta e oito horas ou um pouco mais de tempo, e que isso é o suficiente pra tudo voltar ao quase-normal? Então, se não houver amanhã, depois de amanhã voltaria tudo a ser imperfeição? Tenho a sensação que não. No sentido estrito de perfeição, a sentença: se não houver um amanhã, só nos deixa duas opções, se uma delas acontece, a outra não virá depois; só no caso do ‘não’ vir por último.
Ah! Não! Porra, vou parar com essa deprê nada a ver que está batendo. Porra, último dia e vou ficar nessa? Nem fodendo! Quem for dormir cedo, bem, beijos, foi ótimo, foi muito bom ter lhes conhecido, ter compartilhado momentos inexplicáveis ao lado de vocês, mas não vou ficar nessa fossa na última noite de sempre-sexta aqui e morrer conformado com isso. Não, de jeito nenhum! Já que não vai sobrar nada amanhã, o agora é imprescindível. E nem sonhe o contrário.
Vou armar uma festinha longe daqui, que comece bem cedinho, daqui a pouco, que é pra gente curtir o máximo. Quero drogas, mulheres, rapaziada conversando, som ambiente bem relax – porque morrer freneticamente ninguém merece, é um som pra embalar nossos sonhos pra sempre.
Enfim, não vou mais ficar nessa paranóia de uma situação que nem aconteceu ainda… PQP! E se essa porra for acontecer mesmo?! E é bem provável que esta carta tenha sido enviada por um corno que estava naquela deprê de domingo-com-ressaca e disposto a arrombar a vida alheia. Mas, e se esse camarada for só um cara sincero? Céus! Hoje! Isso mesmo, hoje, é, nesse dia que me faz respirar, decido que vou virar porra louca! É. Vou botar pra foder. Virar homem bomba. Já que esta pica desse amanhã não vem mesmo, hoje vou despentelhar as putas lá da praia, e vai ser na cera! É, acho que hoje tem que ser inesquecível, porque já que esquecer do amanhã também está parecendo impossível, escolho hoje pra cometer minhas atrocidades: he-he-he.
Bem, por onde eu começo? Hnnn, deixa eu ver… isso não vai dar certo, vou ali na casa de um brother ver qual é; não, também não. Meu telefone! Vou ligar e marcar uma festa com os melhores dealers da cidade, comprar tudo que eu posso, consumir tudo que eu posso, foder todas que eu puder, cheirar, tomar, injetar, fumar, beber e tentar morrer tudo que eu posso! E olhe que eu pego pesado de mais nessas coisa e, como eu só páro em três hipóteses, o bicho ia pegar nas redondezas. Abre um parêntesis: em dias assim, o dia só acaba quando as coisas acabam, quando o dinheiro acaba, ou quando der pane no sistema e a galera sair fora do ar. Ou quando se recebe uma notícia miserável com uma premonição bastante razoável. Mas se eu botar pra foder hoje e acordar amanhã, mando Deus ir tomar no meio do cú cabeludo e fedorento dele e ainda cago na cruz; isso porque ele vai ser um filho de uma puta miserável que não tem dó de ninguém se amanhã aquela coisa pegando fogo aparecer lá atrás do mar. E quem quiser ficar em casa que chame o Diabo, porque sem amanhã, hoje eu posso tudo.
Ah! Mas sei lá, ficar estragadinho nesse último dia e não ter o que lembrar amanhã não vai ter muita graça. Acho que eu podia tentar algo novo e deixar de lado esse negócio de ser badernista-radical-extremista. Auto-destruição antes de amanhã não dá, né? Porque antecipar uma merda só duplica a carga de culpa e já que depois da meia noite eu vou dormir obrigatoriamente durante toda a eternidade, hoje eu podia tentar fazer algo novo. Fantástico man! É isso. Vou parar de fumar, beber, me matricular numa academia, sair dessa deprê que já dura pouco mais de dez anos, estudar, fazer yoga, acumpuntura, nadar umas duas horinhas na praia, tentar mesmo ser um menino bonzinho. Só por hoje, não custa nada. Vou doar minhas roupas, compartilhar o excesso de comida que tiver em casa. Acho que vou escrever o dia inteiro sobre isso, e realizar um livro – se bem que esta bosta não chegaria nem a ser publicada, mas tudo bem, vale a intenção. Eu poderia tentar ficar em casa um pouco, deitar na cama em família e ficar de piada o dia todo, contando velhas histórias de quando a gente era pobre, o quanto que eu e minha irmã aprontávamos e meus pais ficavam loucos; nossas viagens para o centro-oeste, realmente fazer aquela retrospectiva de fim de existência. Ai, ai… estou mesmo precisando de um pouco disso.
E hoje também eu tenho que achar um grande amor, me apaixonar mesmo e de vez, já que seria um amor de verão – de um dia só. Porque morrer para sempre sem ter se apaixonado, ninguém merece! E pra isso eu teria que achar alguém, e fazer essa pessoinha me amar de dia, me odiar à noite, ter um chilique quando eu ligasse para dizer “até nunca mais!” e, antes do grande soninho, eu a chamaria pra bem pertinho de mim e a deixaria mansinha dormindo nos meus braços.
Ah não, isso ía ser chato de mais – digo, esse negócio de dormir; porque justamente hoje eu não tenho vontade de dormir nem a pau; e ficar de observador de dorminhoco é de mais pra mim num dia tão especial quanto hoje. Será que se eu ficar acordado para sempre eu conseguiria driblar esse lance de não haver esse amanhã?
Hoje eu queria tanto que fosse amanhã. Sério. Hoje está tudo tão calmo, tem sol depois de longos dias de chuva. E eu ainda não sei o que eu vou fazer com as minhas últimas vinte e quatro horas. Meu último sono, o último café da manhã, almoço, jantar, os últimos beijos, abraços, desejos, transa, a última gozada. Quero um abraço bem apertado de alguém especial hoje antes que não venha o amanhã. Acho que eu te ligaria só pra ouvir tua voz e dizer que amanhã a saudade não vai ter vez, que o que a gente sente hoje, amanhã não vai crescer, que hoje é o último dia pra nos vermos ou pra sentir essa saudade sufocante; só que não vai dar, porque hoje é o nosso último dia mesmo e a gente se planejou de mais; mas tenha a certeza que eu vou te escrever do além que é pra lhe provar que eu pensei em você quase que meu último dia inteiro. Ou, quem sabe, a gente podia mesmo se encontrar e fazer sexo até não conseguir mais e, ainda assim, continuar naquela selvageria louca, até gozar e morrer, quando chegasse o amanhã.
E, pensando bem, olhando por esse lado, chego a ficar até com dó de quem nunca deu, hein! Credo. Dá até medo. Imagina só, vê se não parece piada. Papai e mamãe criaram com tanto carinho, melhor talquinho, fraldinha, pomadinha contra assadura no pipiu, preparando com tanto amor o caminho pra algum marginal com o cacete maior que o do seu pai, chegar e descabaçar com tudo, e você, morrendo de tesão, adorando muito tudo isso... e nhém nhém nhém, nem vai provar! Nooooossa, vou tirar o maior sarro da tua cara se a gente se encontrar no além. Porque meu último segundo vai ser com uma gozada fenomenal, meu corpo estirado lá e o esperma ainda escorrendo quentinho e você nem imagina, nem sonha, como isso é de-li-ci-o-so.
Aí eu ligo o som e coloco um disco bem legal que vai me fazer lembrar pra sempre como hoje foi bom, mesmo que eu já esteja no começo do segundo tempo e agora que as coisas estão começando a ficar animadas – ainda bem! aquele bode da morte não bateu. E quais músicas eu iria querer ouvir por último? Aquele último acorde, um timbre suave da voz do meu pai no tempo em que ele cantava pra mim dormir e eu nem notava ele desafinar, ou aquele último rock’n’roll, ou um gemido gostoso de... hmmm... tesão?
Deixa isso pra lá. O que tiver que acontecer, espero que aconteça mesmo. Acho que hoje eu vou abandonar o carro na garagem, preciso respirar um pouquinho desse ar contaminado pela certeza de ‘não haver um amanhã’. E eu espero que ninguém trabalhe e vão todos para seus lugares favoritos; que as garotinhas estejam sem chapinha, nem maquiadas desde as cinco da manhã e que não usem aqueles saltos altos filhas da puta, porque conheço alguém que quase morre por causa deles; e decidam ter a coragem de mostrar suas caras limpinhas, sem máscaras ou camuflagem. Vou sair e olhar nos olhos daqueles que eu nunca vi, que nunca cruzaram meu caminho e que, embora não tenham feito nenhuma falta na minha vida, nunca mais nos veremos de novo depois dessa última única vez.
Aliás, que último dia é hoje mesmo? Acho que essa perda de memória é efeito colateral de um dia sem amanhã. Uma segunda-feira? Porque não um domingo? Se bem que podia ser sexta-feira, e aquele clima de que tudo vai acontecer até que tudo acabe antes mesmo da galera pirar o cabeção. Não! Isso não! Seria muito punk e uma injustiça sem sentido se o amanhã, sabendo que não virá, decidisse foder logo com a minha hoje-sexta-feira. Não vou ficar atolado nisso, até porque não importa qual dia deve ser hoje, sem amanhã, é sempre sexta-feira.
E a ampulheta do tempo já está me desesperando. Faltam algumas poucas horas pra o sol ir embora e apagar esse azul lindo, tipo “véspera de um dia que não virá”, os passarinhos vão dormir e logo não ouviremos nada além do som de buzinas a cantar; aquele calorzinho bem gostoso que faz no meio da tarde já está se misturando com o sereno… vou ali fumar um cigarro e apreciar a vista, tragar um pouco de inspiração pra continuar aqui ainda hoje. Cinco minutinhos e eu já volto.
É. Acho que agora não tem mais volta. Aquele sol quentinho que eu estava esperando que me abraçasse já foi coberto pelas nuvens e, lá fora, ele está só esperando para não voltar mais amanhã; tão apressado o bichinho, precisava ter visto. Já se foi o último cigarro e os pássaros com medo da chuva. Agora realmente eu já me sinto num daqueles filmes apocalípticos, o céu se fechando com nuvens carregadas e os anjinhos descendo com cara de mal tocando em seus trompetes o melhor do blues. Aí eu penso que o meu melhor amanhã tem que ser agora, hoje. E o próximo segundo é o mais longe que eu posso chegar, apesar de eu não ter mais tantos segundos quanto eu gostaria de ainda os ter.
Tudo bem, já que eu ainda não decidi o que vou fazer neste meu último dia soberano. Mas ainda ficarei aqui, de pé, vou deixar a chama acesa até que me queime por completo. Vou eu, nessa escuridão, com essa vela na mão, minha minúscula chama de esperança em reaver o meu hoje no dia seguinte; e posso até aproveitar o embalo e fazer um jantar a luz de velas só pra mim e meus pensamentos pairando por aqui para ver se a gente consegue chegar num consenso a respeito das nossas últimas horas antes do grande sono.
É. E espero que seja assim, bateu meia-noite e que todos caiam num sono profundo; nada de ‘estátua’! Todos os corpos parados ali no chão, aquele poeirão de areia nos cobrindo a cada dia, e nem vai ter urubú pra fazer a limpeza, os copos parados sobre as mesas, a comida intocada ainda na panela, aquela água na boca vai evaporar junto com todos os desejos que restaram nas faces, metade do cigarro ali estacionado no cinzeiro e aquela fumacinha sem graça subindo... e tudo vai embora, assim, nessa delicadeza toda, sem direito a nenhuma trilogia.
Depois de tudo que se passou, dia após dia, cada fralda, mamadeira, brinquedinho, minha primeira farda da escolinha, os primeiros amiguinhos brincando comigo e eu olhando meus pais ligados em mim pelas brechinhas da sala da diretora, a primeira gazeada, as provas, a primeira namoradinha do colégio, a primeira expulsão, a galera que me zoava, o colégio novo, o primeiro baseado depois da aula e a viagem no ônibus até em casa, o vestibular, a primeira aprovação, a reprovação, as turmas, aquele clima dos playboys na faculdade, a primeira formatura, a segunda, a terceira, e os empregos que não apareceram, as oportunidades que eu deixei passar, o chute no pau da barraca, os meus primeiros empregos, filhos, casamento, paternidade, eu, eu, eu e eu, família; tudo não foi em vão. Pelo menos se ninguém acordar amanhã, ao menos que nos restem nossas memórias, tipo filminho no teto do quarto. Acho que a gente vai dormir e vamos todos pra um cinema. Cada um na sua sala assistindo seus filmes, sem direito a cortes, tudo como foi e a gente não vai poder mudar nada, a não ser nosso sentimento em relação a tudo. Isso é; se ainda houver memória disponível pra gente poder assistir, pois do jeito que eu estou a imaginar, vai ser: pronto, acabou e pluft! Tudo escuro. Sem som, imagem, nem sentidos... um nada absoluto.
Final de tarde chegando, esse crepúsculo fim de carreira está lindo, imagine que estão todos, mas todos, inclusive os bichos todos, parados, extasiados diante do último pôr do sol. Não há um zunido no ar; respiramos o mesmo ar, bebemos a mesma água, precisamos de tudo que pode ser comum; e a grande bola de fogo encosta na terra sem aquecê-la, ainda me escorre a última lágrima pelo canto dos olhos, sem vergonha, sem temer. Parece um ótimo começo de fim.
Aí eu fico aqui em casa, assim, sem noção de mais nada, porque, por incrível que pareça, não há aquelas cenas do povo se rebelando, destruindo e saqueando tudo que vê pela frente, cada um caçando seus piores inimigos até que não sobre mais ninguém, o pandemônio.
De certa forma, acho que esse lance de ninguém estar vivo fez o povo refletir um pouco – os que receberam aquela maldita cartinha. E olhe que eu só percebi tudo isso em alguns olhares.
Nesse caminho que vem aqui pra casa, nenhum som do vento, o último cigarro já fumado nem está me fazendo tanta falta agora; a última dose de vinho nesse copo raso ainda aqui na minha mão, o desejo de morrer em casa, sentado na varanda colocando uma criança pra ninar. Bichinha, sem noção do que está por vir.
O sol já partiu há bastante tempo, e minhas últimas horas acordado não sei como serão. O dia inteiro aqui parado, deitado, todo bagunçado, olhando a vida passar, desfilando diante dos meu olhos, tão bela e formosa; não fiz nada! Absolutamente nada merecedor de um busto de bronze enfiado na beira da praia e o povo batendo foto. Mas, definitivamente, não quero isso.
Por sinal, não queria muita coisa hoje. Não queria estar em minha companhia, um abraço meu, o meu olhar no espelho atento a todo ou nenhum movimento meu; não queria ter me julgado e me sentenciado a ficar aqui deitado feito um rola-bosta depois que bate na parede e cai, inerte, sem poder levantar, alheio a vontade dessa ventania que começou.
O tempo passa. Essa coisa angustiante tão presente em cada momento, chega a ser imperceptível nesse instante que agora se manifesta. O tic tac do relógio, acompanhando meu coração em pedaços, lamentando o fim tragicômico de um dia tão maravilhosamente vivido, espaçado, derramado numa peneira e que me acena adeus de lá do fundo do ralo. Não penso em dormir nesse instante de adrenalina, sinto um forte choque latejando em mim, uma vontade de transbordar de uma saudade póstuma de tudo que ainda não veio, do que ainda não senti, mas que reside tão latente e vívido em mim.
E apesar dessa angústia benzida com minha tristeza socada nessa sala vazia, não pretendo baixar a cabeça. Vou gritar com essas lástimas que escorrem em meu rosto que eu não vou partir. Não vou! Não vou! E não vou! Porque eu sou imortal! E algum idiota pensou em me matar logo hoje... mas hoje eu não vou morrer! Porque me apaixonei, e, assim, serei eterno! Serei pluma ao ar, atraindo os olhares infantis, eternamente a dançar no ritmo do ar, levemente embriagada, sem derramar sequer uma gota de lágrima sobre o papel; e viverei assim desbotado, irreprimido, em silencio, numa alegria contida, contagiante. Sem chorar sobre qualquer passado, como sorriso de lua que vai minguando, refletindo apenas, uma luz que se exauri, de um ser formidável.
Vou viver de minha própria beleza, macia, delicada, robusta, intocada, primitiva. E nesse último segundo, meu mundo não pára. Meus olhos não fecham e o desespero não se separa. Não vou baixar minha guarda para um final que insiste em permanecer, que não vai nunca me deixar em paz, porque por mais que eu dele fuja, sempre irá me acompanhar. E por isso eu faço vista grossa, que tenho como um legado transmitido minuto a minuto, e não deixo esse milésimo infinito se esvair dos meus pulmões. Porque eu aprendi a lutar por mim e pelos meus próximos, e jamais, jamais eu posso desistir desse projeto chamado Eu. Não vou deixar esse tempo filho da puta me fazer desistir nem tampouco que essas barreiras me impeçam de tentar, porque, apesar das minhas fraquezas, tenho mãos fortes, e com elas escalarei qualquer obstáculo.
E se não houver um amanhã?! Para se desvencilhar dessa crosta impregnada e pesada sobre cada um de nós. E se eu não acordar daqui a um segundo… definitivamente, hoje foi um dia do caralho! E o seu? Qual seu melhor dia? Se você preferir esperar que o seu dia perfeito parta de mim, esqueça um amanhã perfeito. Porque, se eu desistir agora, apesar do sino estar prestes a tocar e terminar tudo nesse próximo instante-agora, talvez nunca acabe vivendo perfeitamente o hoje, esse instante puro e sereno que agora se realiza em mim, em você e em todos que nos cercam. É. E se realmente não houver um amanhã... hoje é o dia perfeito pra tentar realizar tudo de novo.
…E aí sigo o mesmo roteiro: cuecão verde, calça jeans básica, meias folgadinhas de tão velhas, camisa do tipo ‘começo de semana’, a barba mal feita – porque continuo acordando tarde de mais para dar um jeito nisso, aquele banho básico de perfume, pasta na mão, sorriso ainda despenteado combinando com esse cabelo “sarará crioulo” que não toma jeito nunca, aqueles sapatinhos velhinhos polidos nos pés e os pés na rua. Tudo de novo! Com exceção dessa minha nova expressão de quem nunca desistiu, nunca. Sabe? É que sempre acreditei que hoje, exatamente hoje, eu posso tudo caso não haja um amanhã.
Amanheceu, e eu ainda sinto aquele gosto amargo de mais uma noite que passou e isso me desce a garganta travando...

terça-feira, 27 de maio de 2008

Declarações virtuais

Não me comovem suas declarações virtuais
Escorrendo em minhas janelas
Fervendo lá fora esse seu desejo antigo
De pular na chuva e brincar comigo
E eu logo te digo
Que enjoei desse frio
Dessa sua friagem querendo me resfriar

É isso!
Vai chuva
Pra longe daqui
Tem muita gente precisando de teu suor em mim
Vai regar outros e novos corações
Vai sem ressentimentos
Fica feliz pelo que fizeste brotar aqui dentro

Vai
Deixa vir logo a primavera
Com tudo que vem com ela
É que quero novas cores
Pra poder pintar meus jardins
De nuvens azuis sobre mim
E porque quero ver novos amores florir

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Ibope em alta

Ele tinha plena consciencia que havia uma certa disputa no ar. Aquela figura surpreendente não era aficcionado por este tipo de situação. Aos domingos, aquele clássico Gugú x Faustão na tv, enquanto caía aquele temporal e aquelas árvores sobre os carros – mas como o dele ainda estava na garagem, não tinha motivos para se preocupar.

Sabia viver e todos os becos por onde andar, essa mala sem alça era das mais difíceis de se carregar. Só ele para se tolerar. Porque ele sempre andava a frente de tudo e não dava muito tempo para o observarem. O tempo era só uma limitação imposta pelo próprio homem para sua própria inquisição.

E, todos os dias, se tinha um certo tipo de assunto que ele procurava fugir eram aqueles que poucas pessoas sabem fazer outras esquecerem só com um olhar. E corria mesmo, para um abraço, um beijo, um suco de laranja na esquina, ou um jantar na casa de caralho com um prato repetido num dia em que o próprio quase vai à brasa.

Pois como nunca gostou de dominar, não queria para si os ares da prisão. Ficar ali, trancado naquela caixa preta da tv servindo de audiência para quem quer que viesse a passar, definitivamente, não foi jogado aqui para isso; digo, não só para isso. Aliás, deixa guardado de baixo de uma conchinha que é melhor.

Não adianta falar, outras idéias dificilmente ali permanecerão. E esse camarada mantinha o foco por trás da coisa, enquanto cantavam, aquele apresentador ficava remoendo o que estava ali por trás; é, realmente, é um tanto paranóico. Não há com o que se preoculpar.

Macaco no circo. Objeto falante. Papagaio de pirata em beira de cachoeira. Carro de som em véspera de eleição. Picolé caseiro Caicó. Peixinhos de aquário de shopping center. A mulher do sanduíche natural na beira da praia. Vendedor de cigarro de porta de boate. Anunciante de programa policial. Uma piriquita galega na primeira página de Caras. Vendedor de veneno do centro da cidade. Pinguim de geladeira.

Todo mundo presta atenção. Em todos esses clichês idiotas.

E quando o bom mesmo é ser diferente. Não me refiro aquelas diferenças iguais que agora tentam ser iguais para serem diferentes novamente. É ser diferente em essência, e não por almejar essa diferença, mas por ser, naturalmente, assim. E isso já veio no pacote, incluso, sem adicionais nem taxa de assinatura mensal.

Ali é preciso controle para não se ver esvair uma gota daquela inocência, nem uma lágrima derramar. Só porque ele sente aquele ardor diferente de quando alguém parece gostar da gente e aquele enjôo de marinheiro velho que entra no mar pela primeira vez depois de um tubarão ter-lhe arrancado a perna. As duas.

Não, esse ser não vai lhe conceder o ar da graça só pra que lhe tragas a desgraça; só que não o incomoda a solidão e, de certo, conhece onde incomoda mais. E pode levar a carne que você trouxe para o churrasco que ele mata a primeira gata que aparecer na rua só com aquele olhar e faz a festa ir até depois do ano novo.

Some com essas idéias de privatização, monopólio cardíaco; pra longe daqui com tudo isso. Lá dentro é quase que uma sociedade anônima de capital-sentimental aberto. As quotas não tem preço, nem dono certo, porque tudo é bastante democrático e nem precisa ligar pra dizer quem será eliminado. Agora nem queira manter só para si um parque tombado pelo patrimônio da serenidade por puro egoismo; não faz sentido.

Tesão. Excitação. Desejo. Coisa de pele. Escalada nas paredes. Fim de festa. Aquela pegação. Os olhares trocados a noite inteira. Contato. Cheiro. Indiscrição. Vontade. Tentação. Um flerte ridículo que só quem vive não nota. A nota depois da conta. Amassos. Parede. Rede. Beco de casa de praia. Suspiros ao pé do ouvido. Murmuros. Sussurros. A mão naquio. Aquilo na mão. Barrigas quentinhas. Juntas. Abraço forte. O mútuo. Safadeza. Lábios. Línguas. Beijos. Sexo. Sexo.

E, sabe? Isso até que rende uma boa audiência.

Um dia sim, no outro quem sabe? Se ele tenta correr dele mesmo! Fugir do eu lírico veterano de longas datas ali. Vai fugir do posto, com gosto. Evitar aquela sabatina diária que ele tanto odeia. Não precisa que ninguém lhe faça qualquer prece, oração; nada disso, vai saber muito bem qual o caminho que vai percorrer.

Agora eu te deixo de lado. Pra você ficar só daí, sentado na sua nova poltrona de couro, assistindo o que eu, Eu, aqui de dentro vou tentar te dizer, e tem que ser alguma coisa que não seja fútil. Vou tentar te distrair que é pra ver se você cái em si. Ou em mim. Porque eu te desejo tanto daqui de dentro de você. E olhe que a gente se conhece tão bem, não é? E as vezes eu me pergunto porque tu, eu, ainda somos os mesmos. Eu que nem consigo te olhar nos olhos quando acordo de manhã. E sinto aquela saudade inesgotável mesmo sendo teu hóspede por tanto tempo. E lhe quero tão bem, tão mal, tão eu. Se eu não te conhecesse tão bem, eu diria que você é exatamente como eu deveria ser, assim, como você.

É, caríssimo. Eu também tenho aquela vontade, aquela necessidade de te colocar numa caixinha de Sedex num domingo de manhã; porque as vezes me encho de você, de mim e de tudo que eu não vejo, e aí a vontade que tenho é fazer você sumir sem me deixar aqui ao léu.

Luto por nós dois, te carrego em ti nessa guerra sem fim entre o que você pensa que é e quem eu realmente sou, contra tudo o que resta. E quando falo que estou naquela bad fudida no meio da semana só porque ainda não consumi nada que me deixasse um pouco mais esperto é porque eu estou aceitando sua sugestão pra prosseguir ainda aqui na grade da programação de alguma maneira.

Sei lá. Tava afim de… sei lá! Fugir da cidade. Queria fugir do mundo, pode? Fazer uma trouxa de roupa e carregar ela na cabeça e sair andando por aí. Rapaz... pode! Puxa a cordinha, espera parar e pede pra descer e espero que não passe do ponto senão você cái num buraco negro; ou entao em Plutão… e lá deve ser bem menos frio que aqui, ó! Principalmente a vida. Acho que lá já é primavera! Deve ser lindo. Aqueles jardins plutônicos (ou seriam platônicos?), não importa, a própria definição não define a beleza própria da coisa em si e isso não é, de fato, importante. Enfim. Acho que como eu via nos livros, Plutão, agora um ex-planeta (nossa.... esse lance de ex-planeta é ótimo), roxinho, com aquelas nuvenzinhas feitas de plumas estelares; aposto que lá deve ter um céu lindo de morrer! Sabe, mas deve mesmo! Eu também, já imaginei isso. Imagina a cena: ao invés do pôr do sol com aquele crepúsculo suicida como acontece aqui ou a aurora nos pólos; lá tem que ser violeta, púrpura, cor de pecado, erotismo no ar, o ódio sensual, em todo o planeta, os grãos de areia copulando à beira-mar, lindo; o clima perfeito pra descer no ponto errado. Vou sonhar com isso mais tarde, gravar e colocar aquele playback no ar que é pra ver se você consegue me sintonizar. E nem invente de aparecer por lá, porque eu ando pensando em cuidar um pouco mais de mim… mas hoje talvez eu me permita me negligênciar um pouquinho só pra te receber; mas é só por hoje, porque amanhã eu começo a tentar de novo ser melhor sem você.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Um drink, por favor!

Agora anda, passa, porque a fila anda pra todos os lados. E olhe que eu andava muito bem, obrigado, antes mesmo de você chegar. Não entendo alguns detalhes dessa sua personalidade excêntrica, mas se for só isso o que eu sinto, está ótimo, tenho olhinhos de gatinho recém-nascido. E olhe que Eu até que pensei em fugir com uma filha-duma-puta, sair correndo do altar e ir para um abraço no mundo.

Nem adianta me ligar, todo manso, como cão depois que morde o dono. Merdas cagadas ao cú não voltam jamais; e não pense que seu ânus é como o fotolog.

As vezes sou sensível demais e uma pequena palavra pode soar como uma bala inteira na cabeça. Mas, danem-se esses terremotos e esse novo toque polifônico chatinho do meu celular aqui do lado. Nem posso imaginar qual desespero que te leva nessa insistência em querer me falar. Eu te entendo, porra! Preciso gritar assim pra você entender que nada vai te tirar de dentro de mim?! E se eu te disser que as janelinhas dessa carcaça vulgar estão abertas, não lhe seria estranho? Sim, estranho. E aos olhos de quem não conseguiu se distrair, é difícil alcançar uma mosca que passou voando aqui e me deu aquela agonia fininha, e um ódio medonho de uma coisa tão chata e insignificante que se eu pudesse, jogava uma porra de uma bomba atômica nesta desgraça!

Pois bem, meu amor é fatal, de um veneno suave e apimentado, que queima os lábios e desidrata a alma, mas como eu não sou um anjinho com uma cara de idiota cuspindo água pela boca numa fonte ridícula, bato as asas e bye bye neném. E não me venha com ‘porquês?’ que, dificilmente, você vai me entender.

Um punhado de gosma verde, uma pitada de pó de coração, duas xícaras de sonhos inúteis, uma colher de chá daquela pasta de carinho e uma de caminhada-na-beira-da-praia, dois litros de uma noite de sexo parte II, mexe bastante até ficar aquela coisa escabrosa e grudenta, unta uma panela com aquela farinha especial que mamãe trouxe da Colômbia e voilà, meia hora depois sái alguma coisa parecida com nós dois. Não gostou da receita? Então dá aquele CTRL+P, limpa a bunda e joga no vaso.

E, se na hora do desespero você vier me chamar, não sei se eu te atendo não, viu! Ah! Tá bom, eu atendo, mas só porque não sou como você.

Vou te segurar com força pelos braços e te olhar nos olhos, porque gosto de olhar nos olhos e navegar em almas alheias; não estou nem-aí para o Presidente da República porque aquele gnomo miserável com nove dedos não está nem aí para-mim-tam-bém. E pronto, enojei disso tudo aqui, vou dar-lhe um chute nos ovos pra ver se ele, no seu terceiro reinado, não deixa nossos vizinhos nos chutarem a bunda de novo.

Eita, sente só, no rádio começou a tocar aquela musica idiota que você adora e que você sempre faz questão de aumentar o som do carro e dançar – mesmo sentada, quando ela começa a tocar. Eu seria capaz de cortar os cabos de ligação na esquina anterior antes de ir te buscar em casa. Parece sinistro, não? Pois é, mas eu não faria isso mesmo com você, é que adoro aquele poperot no seu ritmo. Mas acho que agora você não me entendeu em nada mesmo.

Áaaaaai! Pu-ta mer-da! e o lance é esse mesmo e se você não quiser, fala logo! Mas depois não volte atrás, porque eu também não vou resistir. E se você pensa que só porque eu te acho um mosquitinho na bunda da vaca (e por isso mesmo aquela agonia frenética que a faz balançar o rabo o dia inteiro) eu vou deixar você mamar nas minhas tetinhas, pode tirar o seu par de asas da chuva ou então vou te dar uma cagada feroz, então aproveita porque a chuva ainda não começou e aquela diarréia miserável que está me dissolvendo há dois meses não bateu ainda hoje.

E só porque tenho vários amores, simultaneamente e em harmonia, aí você pensa que eu não bato uma pra você. Não, não é tão embaraçoso lidar com isso quanto você pensa, e o seu espaço na varanda já está garantido, porra! Sendo que o que tenho a receber é só uma infinita parte do que eu realmente necessito; e é assim porque aqui dentro tudo soa diferente, as batidas, o ritmo, o eu; eu já sinto a diferença desde o dia que aquela maçã caiu na minha cabeça. Temos tanto em comum e ainda assim tão diferentes. E um não quer compromisso; o outro, nada disso.

Por favor! Por favor! Por favor! Não me tente hoje, seu boneco está precisando de um pouco de ar para se manter em pé, tenho certeza que lhe sou mais útil quando estou inflado. E, sabe? Já não estou nem aqui há muito tempo. Esses conceitinhos medíocres e ultrapassados numa contramão fudida em pleno meio-dia de uma segunda feira na marginal Fernandes Lima. Bem, você certamente não faz idéia de quantas horas de vídeo já deu pra editar aqui na minha cabecinha de melão, mas não só porque você consegue ser esse ser armado – com duas quarenta e cinco embainhadas na cintura, se revirando na cama como uma louca e, de cabeça baixa, olhar predador, me pede que eu te sirva um drink bem gelado, mas só o drink mesmo, porque as cerejas você já têm; é que lhe tenho muito prazer. Estranho isso, porque é só um pequeno trailer e o lançamento da mega-produção será às 17hs, no dia do meu funeral. Não. Não espere que eu te mande um convite. Mas aparece por lá, o Buffet deve ser ótimo, e pelo menos alguma coisa você vai ter pra comer por lá.
Agora olhe bem; mas presta atenção mesmo. É; aqui, bem dentro dos meus olhinhos. Não, meu bem, é do outro lado e um pouco mais pra cima. Porque tudo é muito confuso e tudo pode soar diferente se você inventar de peidar nesse momento fudido justamente agora que eu queria realmente te dizer alguma coisa que lhe possa ser útil pelos próximos cinco minutos dessa sua vida canalha e cheia de aventuras.

É que só porque eu sou doente você me julga diferente; e se eu for, por acaso, a forma mais desprovida dessa essência humana rídicula e degradante? Sinceramente!? Eu acho até que você gosta disso! Eu não sou nada disso, não! Mas não inventa de me ligar depois da meia-noite numa sexta-feira quando eu estiver quase acordado usufruindo daquele bode mortal na minha cama com todas as luzes da casa apagadas ouvindo o som dos carros passarem na rua.

Hoje vou aparecer off-line o dia inteiro porque eu estou numa ressaca miserável até na cabeça dos dedos porque tem uns dois meses que eu não bebo nada que não contenha um teor alcoólico um pouco mais elevado, e, certamente a culpa não é do garçom! Quero um beijo com mel, o quarto dos fundos e uma cama que é pra gente se abraçar e ficar de bobeira o resto do inverno ali deitados ouvindo os pinguinhos da chuva tilintando nas telhas de barro colocadas uma a uma ali só pra gente poder ficar zen. Aliás, esquece toda essa merda e vai cultivar fungos no teu quintal porque tem gente que quer comprar; e o playboy idiota que você tanto diz amar está fudido porque o chamaram para participar do ‘miss quinta categoria’ e ele tem uma grande chance de levar o maior prêmio da televisão brasileira e você continua fingindo ser mais forte do que ele realmente sabe que você é, e por isso eu seria capaz de te desejar uma morte sinistra, meio que assim, te apagando do juízo.

Íu, sái fora, nem vai pensando que ganhou um espaço muito maior que o meu nariz empinado pode alcançar, porque eu também só posso tentar me aproximar pela metade de um olhar quarenta e três flambado na vodka, e depois ainda ter coragem para lhes dizer não depois de uma surra a três sob a luz de velas.

Então, quer saber? Vou ligar meu som, encher um copo de whisky - sem gelo, ficar nu, sentar, colocar os pés para cima e deixar os ovos balançarem, sintonizar aquele Pink Floyd no ‘vol. 60’ e vou tentar te esquecer comendo ameixa na minha varanda numa segunda-feira fudida depois de ter feito amor com você o fim de semana inteiro. Ah! Por sinal, depois você me explica que porra é essa expressão ‘fazer amor’. Porque meus pais me disseram, antes de eu sair de casa, que o amor, essa coisa quase extraterrestre, tão incerto e desconhecido tanto quanto quem é Deus, brota numas cachoeiras que nascem lá no alto dos Andes, em meio ao frio e nuvens e neve. É. Inclusive eles me disseram que lá tem um anjinho daqueles de pedra bem pequenos, bem idiotas e gordinhos que cospem esse tal de amor numa poça que transborda montanha abaixo; e nem se iluda, porque ele evapora antes de desaguar no lago que corre aqui atrás de casa.

Bem… voltamos a nossa programação normal.