sexta-feira, 18 de julho de 2008

Pro meu 'Docin'

"se tiver chorando
ligue pra mim!
vi?
e tome um beijin prá ti!
que é prá rimar com os rin
já que num tô perto de quem come capim
apois Eu é que num vô ficá burrin
mai quero só uma coisa desses peitin
que é tão lindin
que nem quando é bem de tardin
e a gente óia o vôo dos passarin
sem eles se queimá na frente do solzin
axo tão bunitin
sas duas coisin
que de tão grande quase bate ni mim
e esse bixin
que bate tão assim
tão perfeitin
mai parece o balançado duma frô de jasmim"


*pra minha pequena red dragon

sexta-feira, 11 de julho de 2008

ligando pontinhos

"[...] O amor é estranho, e esqueci de te avisar que é esse o nome que se dá para o que você está sentindo... Amor. Para o frio na barriga, a garganta seca, a timidez repentina que você sente quando ela chega, e para o vazio que fica quando ela sai. Ela sai e te leva por inteiro."

(Os opostos se atraem. (?) - 11.07.08)
http://sukuu.blogspot.com/

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Virgem de novo

sim!
sejam bem-vindos!
a uma realidade sarcástica
de brincadeira de pega-pega
onde todos correm sem parar

quando saio daqui
vem o palhaço tentar roubar meu lugar
mas, acho que não ouviu falar
que o lugar de gente que não morre
sempre irá ficar

e nem tente me espremer
porque, no auge do seu desespero
é que não tens como se conter
e aí...
nem me conheces mais
porque a criatura
virou criador
e o que tudo era
agora modificou
- a lembrança, é algo que foi
e imutável ficou, estática, no tempo
sem progresso ou evolução: uma dor
saborosa do que foi e não mais é;
porque tudo que é a mercê do tempo,
petrificar-se-á para quem não quiser andar -
agora, aqui, eu não estou mais
e de onde as lembranças me alcançam
já saí há tempos

criaturazinha vulgar
que encara num profundo olhar
destemido e segregado
filho de si
auto-parido
semente que brota sem regar
e se faz, por si só, no próprio ar

só me devo respeito
como algo que agora É
e Sou
e Serei
tão presente
quanto essa ausência que tu sentes

e respeito, e paz, e ternura
sigam sempre em frente
como vossos princípios
que voltam triunfantes do vale das sombras
renascidos, irreprimidos e fluorescentes
rasgados, cicatrizados e sujos
puros
perseverantes

nesse reencontro
sinto a terra molhada sob os pés

mesmo que tudo pareça igual
começo a sentir porque ainda sou diferente
independente de sol ou lua
quando fecho os olhos
e me banha a chuva novamente
lembro-me de quem sou:
vejo sorrisos contentes

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Se não houver um amanhã (conto)

Hoje amanheceu, e o céu está brilhante. Fui contagiado por uma imensa alegria matinal que mal deu tempo de pôr os pés no chão e já estava quase pronto para um novo dia. Uma maçã na cesta, um copo d’água, aquele prato ainda sujo sobre a cabeceira que fica ao lado da cama e aquela rotina lascada abre a porta e entra no meu quarto com toda força que tem, mesmo sem ser convidada, como sempre. Aí eu me lanço naquela velha coreografia matinal: cuecão verde, calça jeans básica, meias folgadinhas de tão velhas, camisa do tipo ‘começo de semana’, a barba mal feita – porque continuo acordando tarde de mais para dar um jeito nisso, aquele banho básico de perfume, pasta na mão, sorriso ainda despenteado combinando com esse cabelo “sarará crioulo” que não toma jeito nunca, aqueles sapatinhos velhinhos polidos nos pés e os pés na rua.
Pronto! Meu dia começou super bem hoje. Isso porque eu só estou trinta minutos atrasado para chegar ao trabalho porque o infeliz do prefeito decidiu realizar suas obras reeleitoreiras justamente na minha rua; e já que eu não tenho nenhum helicóptero para ir até a esquina, como ele faz, vou ter que ir na minha carruagem mesmo e por isso tenho que sacrificar uma hora inteirinha de sono para poder chegar uma hora atrasado ao trabalho e perceber todos me olhando de cara feia – apesar dos super sorrisos estampados na cara do pessoal. Bem, mas vou aguardar meia horinha a mais que é pra aquele caos de fumaça e buzinas diminuir.
E hoje eu estou muitíssimo empolgado, e adorando isso, mesmo que eu ainda não saiba o motivo real dessa agonia efervescente que eu estou sentindo por dentro e que me proporciona essa empolgação momentânea que, por pouco, não se confunde com felicidade. E isso realmente está me fazendo toda a diferença nesse dia, porque, para mim, todos os dias nos últimos meses já estavam parecendo iguais, sempre as mesmas sensações, os mesmos lugares, as praias, as mesmas pessoas nas ruas, nas praças, nos bares, nas calçadas; tudo parecia se repetir, as notícias nos jornais, os políticos, as crianças a pedir dinheiro nas ruas – e agora também os travestis. É. Pode soar estranho; mas parece que é sempre dezembro, véspera de ano novo, dia dois vai ser imprensado e na próxima segunda começam umas super férias com grana no bolso. Imagina, né! Euforia geral e descomedida.
Embora, sempre, sempre, sempre, no outro dia sempre rola aquele fardo pesando em minha cabeça, e aquela caminhada que não pára nunca. Aliás, ainda não sei o que significa parar nem o que quer dizer nunca – e olhe que eu não sou o único que não tem noção do que é isso.
Mas, enfim, hoje eu acordei e me senti bem e foda-se a ressaca moral. Após quarenta e oito horas de puro tédio, fim de semana alucinante: ir além do próprio limite. Sim, essas horas de terror interno, sonolência em alta, bolsa em baixa, olhos amarelados, nariz escorrendo até dizer basta – com um algodão lá dentro que é pra dormir legal; e tudo bem, eu já sabia que quarenta e oito horas depois tudo voltaria ao normal.
E o que seria esse normal? Relativismo. Vida pacata, caminhada na praia com aquela amiga que não pára de falar bobagens da moda, ou que inventou um sotaque diferente só porque foi visitar um amigo no sul, soninho após a novela das oito, festinhas depois da meia-noite, ir direto trabalhar, nada de álcool, todas as drogas, sozinho ou num gang-bang, olhar indiscreto, atento, procurar um amor fora de si, encontrá-lo dentro de si… a normalidade era só uma expressão, do tipo, formal. E digo isso porque eu gosto profundamente dessa alucinação constante, fora dos padrões de normalidade, de coisa espalhada pelo vento, sem destino certo, sem nenhum “até amanhã”, nem promessas ou vantagens indevidas; esse meu progresso a Deus dará, subversivo desde a raiz até o último fio da falta de juízo, com passos descompassados, em linha sinuosa, num rítimo de ressaca de maré; não há como não se apegar a esse Santo nos momentos de aperreio.
Mas a quem possa contagiar e para aqueles que se deixam contagiar, os dias estão contados a partir de agora. Nesse mesmo instante de pura calma e sabedoria, uma carta me invade a carne, uma batida na porta me avisa que a correspondência chegou, e ainda estou com aquele achocolatado entalado na garganta. E vem de um povo distante, de um lugar sabe lá Deus onde fica. E quem seria? Quem havia se preoculpado comigo enquanto eu, aqui, minha Tv, frigobar e poltrona, delirávamos abraçados e rolando no chão? Puxei uma fitinha branca que veio colada no verso e, pluft, aquela fumaça branca invadiu o meu recinto (sabe aquelas bolinhas de ninja que ‘explode, fumaça e desaparece’? Pois é, era mais ou menos assim – só que isso não aconteceu. Surtei. Brincadeira isso…)
Aí eu páro aqui sentado na minha cama, olhando além da janela e não sei o que fazer num dia como hoje. Imagine só, como num estálo hipinótico, recebo uma cartinha, de alguém que só pode estar querendo tirar um sarro da minha cara, e neste exato momento deve estar rindo horrores de mim, e essa carta escrita com aquela caligrafia de poeta medieval, vem me dizer que... ahn, deixa eu lerrrrr i-s-ssss-ooo aaaa-aaa-aqu-iii... não! ha-ha-ha! Alguém só pode ter piraaaaaado de vez! Não! Fala sério! Escuta isso, dois pontos: não vai haver um amanhã; já pensou?! Nã, nã, nã, nã, não! vou ser mais preciso, “...se não houver um amanhã?”. Só um minutinho que eu vou ali na janela... “quem foi o loooooooooooouco que escreveu isso? (isso, issssoo, sso, so, o – o eco!)”. Não gente. Brincadeira isso; já não basta toda vagabundagem terrena neste continente emergente e, algum indivíduo, bastante ocupado, por sinal, tem o desprendimento de me fazer uma honraria como essa? É muita vadiagem pra uma pessoa só! Dá licença!
Tssss... mas aí eu já não posso fazer mais nada, porque uma pegunta filha de uma mãe como essa, a essa hora, só pode ser brincadeira, e só para brincar também eu já começo a pensar o que eu vou fazer hoje, só hoje. Só pra entrar no embalo mesmo.
Bem, eu não estou muito confiante nesse apocalipse que chegou pra mim num envelope michuruca me deixando ainda mais confuso, e, exatamente por isso eu não sei que raios eu faria num dia como hoje. Mas só para brincar também, vou gastar cinquenta centavos do meu tempo com isso.
Num dia como hoje, sem amanhã; eu não vou receber nenhum pagamento hoje, então, nem aí para o trabalho; já que aquela desgraça não vai pra frente mesmo. Invés de meia hora a mais pra esperar o trânsito desafogar, vou tentar afogá-lo ainda mais por mais três horinhas.
Mas acho que eu prefiro ligar pra aquele velho amor que foi embora pra muito longe e passar o resto desse dia inteiro conversando sobre os caminhos que a vida nos levou, e vou ficar flertando com ela o dia inteiro no telefone. Como seria bom se a gente estivesse junto agora, deitados ali naquele sofá cinza escuro no cantinho mais escondido da casa esperando pra ver se o dia vai clarear amanhã; mas acho que ela deve estar muito bem no velho mundo pra poder me atender depois de quase uma década sem nos falarmos direito.
Ou não, melhor, já que essa idéia não se realizaria nem se hoje fosse o último dia, eu iria na casa de todos os meus amigos para lhes dar um forte abraço silencioso, sairia para tomar um sorvete, se ainda houvesse algum sorveteiro na rua, ou simplesmente caminharia na praia – ha-ha-ha, até parece que eles iriam topar um programinha tão light como esse caso fosse nosso último encontro, e olhe que eu não iria poupá-los de saber o que se passa hoje ou o que não se passará amanhã. E se eu não quisesse vê-los? Se todos eles já se sentissem abraçados e confortáveis por não terem compartilhado comigo uma notícia tão desanimadora, ou não, e se agora eu pudesse ficar em casa esperando o badalo do relógio soar a chegada do nada? Sozinho. Será que eu teria coragem de querer um amanhã? De desembainhar minha espada samurai e lutar contra um pedaço de papel metidinho a vidente?
Não sei se valeria a pena. Mas do jeito que as coisas andam, prefiro ver o lado bomdessa situação ridícula: não ter que acordar cedo, não ser obrigado a ver na Tv os políticos sempre roubando, metendo a mão no meu bolso – e colocando no deles, claro! – tirando a esperança do povo, a polícia não mataria mais inocentes nem tentaria achar nada nos sapatos alheios, ninguém reclamaria mais de fome, nem de doenças, nem que falta dinheiro, nem teriam mais peruas que não sabem com o que gastar tanto dinheiro – o nosso dinheiro. Poderia até ser legal isso mesmo, sabia? Aquelas pragas de nariz em pé desfilando na beira-mar com aquelas malhas enfiadas no cú, silicone espalhado pelo resto do corpo, não teria mais reuniões fúteis durante o chá das seis para se falar da crise no casamento de mais ninguém; sem confusões, sem transições, ninguém sofrendo… iam-se embora todas as mazelas mundanas insuportáveis desse terceiro mundo e todo o povo que o manipula. Acho que eu estou até começando a ficar aliviado com isso. Olha só! Que notícia boa me veio essa manhã. Tudo o que eu tenho de mais insuportável se vai! Em mim e no mundo! Estou quase tendo um orgasmo aqui só de pensar no Congresso Nacional vazio... se bem que o “se não houver um amanhã” já começou há muito tempo por lá, mas o nada de amanhã vai servir só pra oficializar a parada.
Mas e aí… por quanto tempo eu iria sobreviver se o hoje se fosse? Pode até não haver um amanhã – e isso é um pessimismo fodido, porque o depois de amanhã provavelmente também não vai haver – não vai ser como um dia inteiro dormindo, sem sair do quarto. Sabe quando a gente se ferra, mas daquelas ferradas fuderosas e o desespero só dura quarenta e oito horas ou um pouco mais de tempo, e que isso é o suficiente pra tudo voltar ao quase-normal? Então, se não houver amanhã, depois de amanhã voltaria tudo a ser imperfeição? Tenho a sensação que não. No sentido estrito de perfeição, a sentença: se não houver um amanhã, só nos deixa duas opções, se uma delas acontece, a outra não virá depois; só no caso do ‘não’ vir por último.
Ah! Não! Porra, vou parar com essa deprê nada a ver que está batendo. Porra, último dia e vou ficar nessa? Nem fodendo! Quem for dormir cedo, bem, beijos, foi ótimo, foi muito bom ter lhes conhecido, ter compartilhado momentos inexplicáveis ao lado de vocês, mas não vou ficar nessa fossa na última noite de sempre-sexta aqui e morrer conformado com isso. Não, de jeito nenhum! Já que não vai sobrar nada amanhã, o agora é imprescindível. E nem sonhe o contrário.
Vou armar uma festinha longe daqui, que comece bem cedinho, daqui a pouco, que é pra gente curtir o máximo. Quero drogas, mulheres, rapaziada conversando, som ambiente bem relax – porque morrer freneticamente ninguém merece, é um som pra embalar nossos sonhos pra sempre.
Enfim, não vou mais ficar nessa paranóia de uma situação que nem aconteceu ainda… PQP! E se essa porra for acontecer mesmo?! E é bem provável que esta carta tenha sido enviada por um corno que estava naquela deprê de domingo-com-ressaca e disposto a arrombar a vida alheia. Mas, e se esse camarada for só um cara sincero? Céus! Hoje! Isso mesmo, hoje, é, nesse dia que me faz respirar, decido que vou virar porra louca! É. Vou botar pra foder. Virar homem bomba. Já que esta pica desse amanhã não vem mesmo, hoje vou despentelhar as putas lá da praia, e vai ser na cera! É, acho que hoje tem que ser inesquecível, porque já que esquecer do amanhã também está parecendo impossível, escolho hoje pra cometer minhas atrocidades: he-he-he.
Bem, por onde eu começo? Hnnn, deixa eu ver… isso não vai dar certo, vou ali na casa de um brother ver qual é; não, também não. Meu telefone! Vou ligar e marcar uma festa com os melhores dealers da cidade, comprar tudo que eu posso, consumir tudo que eu posso, foder todas que eu puder, cheirar, tomar, injetar, fumar, beber e tentar morrer tudo que eu posso! E olhe que eu pego pesado de mais nessas coisa e, como eu só páro em três hipóteses, o bicho ia pegar nas redondezas. Abre um parêntesis: em dias assim, o dia só acaba quando as coisas acabam, quando o dinheiro acaba, ou quando der pane no sistema e a galera sair fora do ar. Ou quando se recebe uma notícia miserável com uma premonição bastante razoável. Mas se eu botar pra foder hoje e acordar amanhã, mando Deus ir tomar no meio do cú cabeludo e fedorento dele e ainda cago na cruz; isso porque ele vai ser um filho de uma puta miserável que não tem dó de ninguém se amanhã aquela coisa pegando fogo aparecer lá atrás do mar. E quem quiser ficar em casa que chame o Diabo, porque sem amanhã, hoje eu posso tudo.
Ah! Mas sei lá, ficar estragadinho nesse último dia e não ter o que lembrar amanhã não vai ter muita graça. Acho que eu podia tentar algo novo e deixar de lado esse negócio de ser badernista-radical-extremista. Auto-destruição antes de amanhã não dá, né? Porque antecipar uma merda só duplica a carga de culpa e já que depois da meia noite eu vou dormir obrigatoriamente durante toda a eternidade, hoje eu podia tentar fazer algo novo. Fantástico man! É isso. Vou parar de fumar, beber, me matricular numa academia, sair dessa deprê que já dura pouco mais de dez anos, estudar, fazer yoga, acumpuntura, nadar umas duas horinhas na praia, tentar mesmo ser um menino bonzinho. Só por hoje, não custa nada. Vou doar minhas roupas, compartilhar o excesso de comida que tiver em casa. Acho que vou escrever o dia inteiro sobre isso, e realizar um livro – se bem que esta bosta não chegaria nem a ser publicada, mas tudo bem, vale a intenção. Eu poderia tentar ficar em casa um pouco, deitar na cama em família e ficar de piada o dia todo, contando velhas histórias de quando a gente era pobre, o quanto que eu e minha irmã aprontávamos e meus pais ficavam loucos; nossas viagens para o centro-oeste, realmente fazer aquela retrospectiva de fim de existência. Ai, ai… estou mesmo precisando de um pouco disso.
E hoje também eu tenho que achar um grande amor, me apaixonar mesmo e de vez, já que seria um amor de verão – de um dia só. Porque morrer para sempre sem ter se apaixonado, ninguém merece! E pra isso eu teria que achar alguém, e fazer essa pessoinha me amar de dia, me odiar à noite, ter um chilique quando eu ligasse para dizer “até nunca mais!” e, antes do grande soninho, eu a chamaria pra bem pertinho de mim e a deixaria mansinha dormindo nos meus braços.
Ah não, isso ía ser chato de mais – digo, esse negócio de dormir; porque justamente hoje eu não tenho vontade de dormir nem a pau; e ficar de observador de dorminhoco é de mais pra mim num dia tão especial quanto hoje. Será que se eu ficar acordado para sempre eu conseguiria driblar esse lance de não haver esse amanhã?
Hoje eu queria tanto que fosse amanhã. Sério. Hoje está tudo tão calmo, tem sol depois de longos dias de chuva. E eu ainda não sei o que eu vou fazer com as minhas últimas vinte e quatro horas. Meu último sono, o último café da manhã, almoço, jantar, os últimos beijos, abraços, desejos, transa, a última gozada. Quero um abraço bem apertado de alguém especial hoje antes que não venha o amanhã. Acho que eu te ligaria só pra ouvir tua voz e dizer que amanhã a saudade não vai ter vez, que o que a gente sente hoje, amanhã não vai crescer, que hoje é o último dia pra nos vermos ou pra sentir essa saudade sufocante; só que não vai dar, porque hoje é o nosso último dia mesmo e a gente se planejou de mais; mas tenha a certeza que eu vou te escrever do além que é pra lhe provar que eu pensei em você quase que meu último dia inteiro. Ou, quem sabe, a gente podia mesmo se encontrar e fazer sexo até não conseguir mais e, ainda assim, continuar naquela selvageria louca, até gozar e morrer, quando chegasse o amanhã.
E, pensando bem, olhando por esse lado, chego a ficar até com dó de quem nunca deu, hein! Credo. Dá até medo. Imagina só, vê se não parece piada. Papai e mamãe criaram com tanto carinho, melhor talquinho, fraldinha, pomadinha contra assadura no pipiu, preparando com tanto amor o caminho pra algum marginal com o cacete maior que o do seu pai, chegar e descabaçar com tudo, e você, morrendo de tesão, adorando muito tudo isso... e nhém nhém nhém, nem vai provar! Nooooossa, vou tirar o maior sarro da tua cara se a gente se encontrar no além. Porque meu último segundo vai ser com uma gozada fenomenal, meu corpo estirado lá e o esperma ainda escorrendo quentinho e você nem imagina, nem sonha, como isso é de-li-ci-o-so.
Aí eu ligo o som e coloco um disco bem legal que vai me fazer lembrar pra sempre como hoje foi bom, mesmo que eu já esteja no começo do segundo tempo e agora que as coisas estão começando a ficar animadas – ainda bem! aquele bode da morte não bateu. E quais músicas eu iria querer ouvir por último? Aquele último acorde, um timbre suave da voz do meu pai no tempo em que ele cantava pra mim dormir e eu nem notava ele desafinar, ou aquele último rock’n’roll, ou um gemido gostoso de... hmmm... tesão?
Deixa isso pra lá. O que tiver que acontecer, espero que aconteça mesmo. Acho que hoje eu vou abandonar o carro na garagem, preciso respirar um pouquinho desse ar contaminado pela certeza de ‘não haver um amanhã’. E eu espero que ninguém trabalhe e vão todos para seus lugares favoritos; que as garotinhas estejam sem chapinha, nem maquiadas desde as cinco da manhã e que não usem aqueles saltos altos filhas da puta, porque conheço alguém que quase morre por causa deles; e decidam ter a coragem de mostrar suas caras limpinhas, sem máscaras ou camuflagem. Vou sair e olhar nos olhos daqueles que eu nunca vi, que nunca cruzaram meu caminho e que, embora não tenham feito nenhuma falta na minha vida, nunca mais nos veremos de novo depois dessa última única vez.
Aliás, que último dia é hoje mesmo? Acho que essa perda de memória é efeito colateral de um dia sem amanhã. Uma segunda-feira? Porque não um domingo? Se bem que podia ser sexta-feira, e aquele clima de que tudo vai acontecer até que tudo acabe antes mesmo da galera pirar o cabeção. Não! Isso não! Seria muito punk e uma injustiça sem sentido se o amanhã, sabendo que não virá, decidisse foder logo com a minha hoje-sexta-feira. Não vou ficar atolado nisso, até porque não importa qual dia deve ser hoje, sem amanhã, é sempre sexta-feira.
E a ampulheta do tempo já está me desesperando. Faltam algumas poucas horas pra o sol ir embora e apagar esse azul lindo, tipo “véspera de um dia que não virá”, os passarinhos vão dormir e logo não ouviremos nada além do som de buzinas a cantar; aquele calorzinho bem gostoso que faz no meio da tarde já está se misturando com o sereno… vou ali fumar um cigarro e apreciar a vista, tragar um pouco de inspiração pra continuar aqui ainda hoje. Cinco minutinhos e eu já volto.
É. Acho que agora não tem mais volta. Aquele sol quentinho que eu estava esperando que me abraçasse já foi coberto pelas nuvens e, lá fora, ele está só esperando para não voltar mais amanhã; tão apressado o bichinho, precisava ter visto. Já se foi o último cigarro e os pássaros com medo da chuva. Agora realmente eu já me sinto num daqueles filmes apocalípticos, o céu se fechando com nuvens carregadas e os anjinhos descendo com cara de mal tocando em seus trompetes o melhor do blues. Aí eu penso que o meu melhor amanhã tem que ser agora, hoje. E o próximo segundo é o mais longe que eu posso chegar, apesar de eu não ter mais tantos segundos quanto eu gostaria de ainda os ter.
Tudo bem, já que eu ainda não decidi o que vou fazer neste meu último dia soberano. Mas ainda ficarei aqui, de pé, vou deixar a chama acesa até que me queime por completo. Vou eu, nessa escuridão, com essa vela na mão, minha minúscula chama de esperança em reaver o meu hoje no dia seguinte; e posso até aproveitar o embalo e fazer um jantar a luz de velas só pra mim e meus pensamentos pairando por aqui para ver se a gente consegue chegar num consenso a respeito das nossas últimas horas antes do grande sono.
É. E espero que seja assim, bateu meia-noite e que todos caiam num sono profundo; nada de ‘estátua’! Todos os corpos parados ali no chão, aquele poeirão de areia nos cobrindo a cada dia, e nem vai ter urubú pra fazer a limpeza, os copos parados sobre as mesas, a comida intocada ainda na panela, aquela água na boca vai evaporar junto com todos os desejos que restaram nas faces, metade do cigarro ali estacionado no cinzeiro e aquela fumacinha sem graça subindo... e tudo vai embora, assim, nessa delicadeza toda, sem direito a nenhuma trilogia.
Depois de tudo que se passou, dia após dia, cada fralda, mamadeira, brinquedinho, minha primeira farda da escolinha, os primeiros amiguinhos brincando comigo e eu olhando meus pais ligados em mim pelas brechinhas da sala da diretora, a primeira gazeada, as provas, a primeira namoradinha do colégio, a primeira expulsão, a galera que me zoava, o colégio novo, o primeiro baseado depois da aula e a viagem no ônibus até em casa, o vestibular, a primeira aprovação, a reprovação, as turmas, aquele clima dos playboys na faculdade, a primeira formatura, a segunda, a terceira, e os empregos que não apareceram, as oportunidades que eu deixei passar, o chute no pau da barraca, os meus primeiros empregos, filhos, casamento, paternidade, eu, eu, eu e eu, família; tudo não foi em vão. Pelo menos se ninguém acordar amanhã, ao menos que nos restem nossas memórias, tipo filminho no teto do quarto. Acho que a gente vai dormir e vamos todos pra um cinema. Cada um na sua sala assistindo seus filmes, sem direito a cortes, tudo como foi e a gente não vai poder mudar nada, a não ser nosso sentimento em relação a tudo. Isso é; se ainda houver memória disponível pra gente poder assistir, pois do jeito que eu estou a imaginar, vai ser: pronto, acabou e pluft! Tudo escuro. Sem som, imagem, nem sentidos... um nada absoluto.
Final de tarde chegando, esse crepúsculo fim de carreira está lindo, imagine que estão todos, mas todos, inclusive os bichos todos, parados, extasiados diante do último pôr do sol. Não há um zunido no ar; respiramos o mesmo ar, bebemos a mesma água, precisamos de tudo que pode ser comum; e a grande bola de fogo encosta na terra sem aquecê-la, ainda me escorre a última lágrima pelo canto dos olhos, sem vergonha, sem temer. Parece um ótimo começo de fim.
Aí eu fico aqui em casa, assim, sem noção de mais nada, porque, por incrível que pareça, não há aquelas cenas do povo se rebelando, destruindo e saqueando tudo que vê pela frente, cada um caçando seus piores inimigos até que não sobre mais ninguém, o pandemônio.
De certa forma, acho que esse lance de ninguém estar vivo fez o povo refletir um pouco – os que receberam aquela maldita cartinha. E olhe que eu só percebi tudo isso em alguns olhares.
Nesse caminho que vem aqui pra casa, nenhum som do vento, o último cigarro já fumado nem está me fazendo tanta falta agora; a última dose de vinho nesse copo raso ainda aqui na minha mão, o desejo de morrer em casa, sentado na varanda colocando uma criança pra ninar. Bichinha, sem noção do que está por vir.
O sol já partiu há bastante tempo, e minhas últimas horas acordado não sei como serão. O dia inteiro aqui parado, deitado, todo bagunçado, olhando a vida passar, desfilando diante dos meu olhos, tão bela e formosa; não fiz nada! Absolutamente nada merecedor de um busto de bronze enfiado na beira da praia e o povo batendo foto. Mas, definitivamente, não quero isso.
Por sinal, não queria muita coisa hoje. Não queria estar em minha companhia, um abraço meu, o meu olhar no espelho atento a todo ou nenhum movimento meu; não queria ter me julgado e me sentenciado a ficar aqui deitado feito um rola-bosta depois que bate na parede e cai, inerte, sem poder levantar, alheio a vontade dessa ventania que começou.
O tempo passa. Essa coisa angustiante tão presente em cada momento, chega a ser imperceptível nesse instante que agora se manifesta. O tic tac do relógio, acompanhando meu coração em pedaços, lamentando o fim tragicômico de um dia tão maravilhosamente vivido, espaçado, derramado numa peneira e que me acena adeus de lá do fundo do ralo. Não penso em dormir nesse instante de adrenalina, sinto um forte choque latejando em mim, uma vontade de transbordar de uma saudade póstuma de tudo que ainda não veio, do que ainda não senti, mas que reside tão latente e vívido em mim.
E apesar dessa angústia benzida com minha tristeza socada nessa sala vazia, não pretendo baixar a cabeça. Vou gritar com essas lástimas que escorrem em meu rosto que eu não vou partir. Não vou! Não vou! E não vou! Porque eu sou imortal! E algum idiota pensou em me matar logo hoje... mas hoje eu não vou morrer! Porque me apaixonei, e, assim, serei eterno! Serei pluma ao ar, atraindo os olhares infantis, eternamente a dançar no ritmo do ar, levemente embriagada, sem derramar sequer uma gota de lágrima sobre o papel; e viverei assim desbotado, irreprimido, em silencio, numa alegria contida, contagiante. Sem chorar sobre qualquer passado, como sorriso de lua que vai minguando, refletindo apenas, uma luz que se exauri, de um ser formidável.
Vou viver de minha própria beleza, macia, delicada, robusta, intocada, primitiva. E nesse último segundo, meu mundo não pára. Meus olhos não fecham e o desespero não se separa. Não vou baixar minha guarda para um final que insiste em permanecer, que não vai nunca me deixar em paz, porque por mais que eu dele fuja, sempre irá me acompanhar. E por isso eu faço vista grossa, que tenho como um legado transmitido minuto a minuto, e não deixo esse milésimo infinito se esvair dos meus pulmões. Porque eu aprendi a lutar por mim e pelos meus próximos, e jamais, jamais eu posso desistir desse projeto chamado Eu. Não vou deixar esse tempo filho da puta me fazer desistir nem tampouco que essas barreiras me impeçam de tentar, porque, apesar das minhas fraquezas, tenho mãos fortes, e com elas escalarei qualquer obstáculo.
E se não houver um amanhã?! Para se desvencilhar dessa crosta impregnada e pesada sobre cada um de nós. E se eu não acordar daqui a um segundo… definitivamente, hoje foi um dia do caralho! E o seu? Qual seu melhor dia? Se você preferir esperar que o seu dia perfeito parta de mim, esqueça um amanhã perfeito. Porque, se eu desistir agora, apesar do sino estar prestes a tocar e terminar tudo nesse próximo instante-agora, talvez nunca acabe vivendo perfeitamente o hoje, esse instante puro e sereno que agora se realiza em mim, em você e em todos que nos cercam. É. E se realmente não houver um amanhã... hoje é o dia perfeito pra tentar realizar tudo de novo.
…E aí sigo o mesmo roteiro: cuecão verde, calça jeans básica, meias folgadinhas de tão velhas, camisa do tipo ‘começo de semana’, a barba mal feita – porque continuo acordando tarde de mais para dar um jeito nisso, aquele banho básico de perfume, pasta na mão, sorriso ainda despenteado combinando com esse cabelo “sarará crioulo” que não toma jeito nunca, aqueles sapatinhos velhinhos polidos nos pés e os pés na rua. Tudo de novo! Com exceção dessa minha nova expressão de quem nunca desistiu, nunca. Sabe? É que sempre acreditei que hoje, exatamente hoje, eu posso tudo caso não haja um amanhã.
Amanheceu, e eu ainda sinto aquele gosto amargo de mais uma noite que passou e isso me desce a garganta travando...

terça-feira, 17 de junho de 2008

Correr

Corro porque sou kantiana. Não sigo os instintos da minha natureza, mas, sim, torno-me aquilo que não sou por uma razão maior. Procuro sempre dominar minhas deficiências, sendo a preguiça a maior delas. Poderia estar perfeitamente preguiçosa, mas não estou.

Outra ressalva, em minha alma, é que ela é triste. Só que não posso estar triste, pois devo, à minha obra, maior discernimento e, às minhas filhas, a força para criá-las fortes. Então também corro porque o contrário disso seria chorar, reclamar sem nada fazer e fumar mil cigarros. Dizem que quem tem a lua em Peixes, no zodíaco, como eu, tem tendência aos vícios. Corro, portanto, dessa queda para a autodestruição, pois não existe melhor química contra depressão do que a endorfina.

Correr, assim, é meu remédio. A minha meditação. Correndo sozinha, estou em minha melhor companhia. Faz mais de dez anos que sigo fiel a essa saudável rotina. Já adquiri até uma sesamoidite crônica, mas tenho um bom médico de pés, e palmilhas especiais.

Dizem, os invejosos, que correr envelhece. Bom, o tempo envelhece. E eu prefiro enfrentá-lo na minha melhor forma. Nunca tendo sido gostosa, correndo, jamais ficarei caída.

Há os que garantem que correr é um modismo urbano. Não sinto dessa maneira, ou jamais teria me tornado adepta. Sou avessa a coisas “in”. E, como também não sou dada a coletividades, sequer costumo correr em grupo. Mesmo nas corridas dos circuitos, das quais eventualmente participo, quando não estou sozinha, estou com um amigo silencioso.

Corro, acima de tudo, porque gosto. Às vezes, chego quase a chorar, tamanha a emoção. A sensação é de que estou deixando o que fui – meu passado é um resíduo que defendo, mas não carrego – para trás; e meu corpo agradece, renovado. Todos os músculos bem preparados para minha defesa, ou daqueles que de mim precisarem.

Sim, corro porque posso. Agradeço aos bons joelhos que possuo, que me sustentam sem reclamar. Claro, tenho métodos, tenho cuidados, tenho as minhas trilhas prediletas. Dou o melhor de mim nesse projeto, pois dependo dele para viver. Porque corro, não fumo mais. Porque corro, alimento-me melhor. Porque corro, não perco as sextas na biritagem – adoro correr aos sábados.
Concluindo, corro para não preencher perfis óbvios. Pois correr, no meu caso, é praticamente uma contradição. Porém insisto nisso, encarando como uma manifestação política, talvez mais significativa que votar. Corro, por causa disso, com toda a elegância e humildade. Aprendendo a cuidar bem desse corpo que Deus habita.

Por fim, eu corro porque acho bonito gente correndo, e quero que as minhas filhas vejam que todos somos capazes de mudar. E porque não suporto fazer regimes – é isso: corro porque adoro comer pizza à noite.”


Fernanda Maria Young de Carvalho Machado

terça-feira, 27 de maio de 2008

Declarações virtuais

Não me comovem suas declarações virtuais
Escorrendo em minhas janelas
Fervendo lá fora esse seu desejo antigo
De pular na chuva e brincar comigo
E eu logo te digo
Que enjoei desse frio
Dessa sua friagem querendo me resfriar

É isso!
Vai chuva
Pra longe daqui
Tem muita gente precisando de teu suor em mim
Vai regar outros e novos corações
Vai sem ressentimentos
Fica feliz pelo que fizeste brotar aqui dentro

Vai
Deixa vir logo a primavera
Com tudo que vem com ela
É que quero novas cores
Pra poder pintar meus jardins
De nuvens azuis sobre mim
E porque quero ver novos amores florir

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Ibope em alta

Ele tinha plena consciencia que havia uma certa disputa no ar. Aquela figura surpreendente não era aficcionado por este tipo de situação. Aos domingos, aquele clássico Gugú x Faustão na tv, enquanto caía aquele temporal e aquelas árvores sobre os carros – mas como o dele ainda estava na garagem, não tinha motivos para se preocupar.

Sabia viver e todos os becos por onde andar, essa mala sem alça era das mais difíceis de se carregar. Só ele para se tolerar. Porque ele sempre andava a frente de tudo e não dava muito tempo para o observarem. O tempo era só uma limitação imposta pelo próprio homem para sua própria inquisição.

E, todos os dias, se tinha um certo tipo de assunto que ele procurava fugir eram aqueles que poucas pessoas sabem fazer outras esquecerem só com um olhar. E corria mesmo, para um abraço, um beijo, um suco de laranja na esquina, ou um jantar na casa de caralho com um prato repetido num dia em que o próprio quase vai à brasa.

Pois como nunca gostou de dominar, não queria para si os ares da prisão. Ficar ali, trancado naquela caixa preta da tv servindo de audiência para quem quer que viesse a passar, definitivamente, não foi jogado aqui para isso; digo, não só para isso. Aliás, deixa guardado de baixo de uma conchinha que é melhor.

Não adianta falar, outras idéias dificilmente ali permanecerão. E esse camarada mantinha o foco por trás da coisa, enquanto cantavam, aquele apresentador ficava remoendo o que estava ali por trás; é, realmente, é um tanto paranóico. Não há com o que se preoculpar.

Macaco no circo. Objeto falante. Papagaio de pirata em beira de cachoeira. Carro de som em véspera de eleição. Picolé caseiro Caicó. Peixinhos de aquário de shopping center. A mulher do sanduíche natural na beira da praia. Vendedor de cigarro de porta de boate. Anunciante de programa policial. Uma piriquita galega na primeira página de Caras. Vendedor de veneno do centro da cidade. Pinguim de geladeira.

Todo mundo presta atenção. Em todos esses clichês idiotas.

E quando o bom mesmo é ser diferente. Não me refiro aquelas diferenças iguais que agora tentam ser iguais para serem diferentes novamente. É ser diferente em essência, e não por almejar essa diferença, mas por ser, naturalmente, assim. E isso já veio no pacote, incluso, sem adicionais nem taxa de assinatura mensal.

Ali é preciso controle para não se ver esvair uma gota daquela inocência, nem uma lágrima derramar. Só porque ele sente aquele ardor diferente de quando alguém parece gostar da gente e aquele enjôo de marinheiro velho que entra no mar pela primeira vez depois de um tubarão ter-lhe arrancado a perna. As duas.

Não, esse ser não vai lhe conceder o ar da graça só pra que lhe tragas a desgraça; só que não o incomoda a solidão e, de certo, conhece onde incomoda mais. E pode levar a carne que você trouxe para o churrasco que ele mata a primeira gata que aparecer na rua só com aquele olhar e faz a festa ir até depois do ano novo.

Some com essas idéias de privatização, monopólio cardíaco; pra longe daqui com tudo isso. Lá dentro é quase que uma sociedade anônima de capital-sentimental aberto. As quotas não tem preço, nem dono certo, porque tudo é bastante democrático e nem precisa ligar pra dizer quem será eliminado. Agora nem queira manter só para si um parque tombado pelo patrimônio da serenidade por puro egoismo; não faz sentido.

Tesão. Excitação. Desejo. Coisa de pele. Escalada nas paredes. Fim de festa. Aquela pegação. Os olhares trocados a noite inteira. Contato. Cheiro. Indiscrição. Vontade. Tentação. Um flerte ridículo que só quem vive não nota. A nota depois da conta. Amassos. Parede. Rede. Beco de casa de praia. Suspiros ao pé do ouvido. Murmuros. Sussurros. A mão naquio. Aquilo na mão. Barrigas quentinhas. Juntas. Abraço forte. O mútuo. Safadeza. Lábios. Línguas. Beijos. Sexo. Sexo.

E, sabe? Isso até que rende uma boa audiência.

Um dia sim, no outro quem sabe? Se ele tenta correr dele mesmo! Fugir do eu lírico veterano de longas datas ali. Vai fugir do posto, com gosto. Evitar aquela sabatina diária que ele tanto odeia. Não precisa que ninguém lhe faça qualquer prece, oração; nada disso, vai saber muito bem qual o caminho que vai percorrer.

Agora eu te deixo de lado. Pra você ficar só daí, sentado na sua nova poltrona de couro, assistindo o que eu, Eu, aqui de dentro vou tentar te dizer, e tem que ser alguma coisa que não seja fútil. Vou tentar te distrair que é pra ver se você cái em si. Ou em mim. Porque eu te desejo tanto daqui de dentro de você. E olhe que a gente se conhece tão bem, não é? E as vezes eu me pergunto porque tu, eu, ainda somos os mesmos. Eu que nem consigo te olhar nos olhos quando acordo de manhã. E sinto aquela saudade inesgotável mesmo sendo teu hóspede por tanto tempo. E lhe quero tão bem, tão mal, tão eu. Se eu não te conhecesse tão bem, eu diria que você é exatamente como eu deveria ser, assim, como você.

É, caríssimo. Eu também tenho aquela vontade, aquela necessidade de te colocar numa caixinha de Sedex num domingo de manhã; porque as vezes me encho de você, de mim e de tudo que eu não vejo, e aí a vontade que tenho é fazer você sumir sem me deixar aqui ao léu.

Luto por nós dois, te carrego em ti nessa guerra sem fim entre o que você pensa que é e quem eu realmente sou, contra tudo o que resta. E quando falo que estou naquela bad fudida no meio da semana só porque ainda não consumi nada que me deixasse um pouco mais esperto é porque eu estou aceitando sua sugestão pra prosseguir ainda aqui na grade da programação de alguma maneira.

Sei lá. Tava afim de… sei lá! Fugir da cidade. Queria fugir do mundo, pode? Fazer uma trouxa de roupa e carregar ela na cabeça e sair andando por aí. Rapaz... pode! Puxa a cordinha, espera parar e pede pra descer e espero que não passe do ponto senão você cái num buraco negro; ou entao em Plutão… e lá deve ser bem menos frio que aqui, ó! Principalmente a vida. Acho que lá já é primavera! Deve ser lindo. Aqueles jardins plutônicos (ou seriam platônicos?), não importa, a própria definição não define a beleza própria da coisa em si e isso não é, de fato, importante. Enfim. Acho que como eu via nos livros, Plutão, agora um ex-planeta (nossa.... esse lance de ex-planeta é ótimo), roxinho, com aquelas nuvenzinhas feitas de plumas estelares; aposto que lá deve ter um céu lindo de morrer! Sabe, mas deve mesmo! Eu também, já imaginei isso. Imagina a cena: ao invés do pôr do sol com aquele crepúsculo suicida como acontece aqui ou a aurora nos pólos; lá tem que ser violeta, púrpura, cor de pecado, erotismo no ar, o ódio sensual, em todo o planeta, os grãos de areia copulando à beira-mar, lindo; o clima perfeito pra descer no ponto errado. Vou sonhar com isso mais tarde, gravar e colocar aquele playback no ar que é pra ver se você consegue me sintonizar. E nem invente de aparecer por lá, porque eu ando pensando em cuidar um pouco mais de mim… mas hoje talvez eu me permita me negligênciar um pouquinho só pra te receber; mas é só por hoje, porque amanhã eu começo a tentar de novo ser melhor sem você.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Um drink, por favor!

Agora anda, passa, porque a fila anda pra todos os lados. E olhe que eu andava muito bem, obrigado, antes mesmo de você chegar. Não entendo alguns detalhes dessa sua personalidade excêntrica, mas se for só isso o que eu sinto, está ótimo, tenho olhinhos de gatinho recém-nascido. E olhe que Eu até que pensei em fugir com uma filha-duma-puta, sair correndo do altar e ir para um abraço no mundo.

Nem adianta me ligar, todo manso, como cão depois que morde o dono. Merdas cagadas ao cú não voltam jamais; e não pense que seu ânus é como o fotolog.

As vezes sou sensível demais e uma pequena palavra pode soar como uma bala inteira na cabeça. Mas, danem-se esses terremotos e esse novo toque polifônico chatinho do meu celular aqui do lado. Nem posso imaginar qual desespero que te leva nessa insistência em querer me falar. Eu te entendo, porra! Preciso gritar assim pra você entender que nada vai te tirar de dentro de mim?! E se eu te disser que as janelinhas dessa carcaça vulgar estão abertas, não lhe seria estranho? Sim, estranho. E aos olhos de quem não conseguiu se distrair, é difícil alcançar uma mosca que passou voando aqui e me deu aquela agonia fininha, e um ódio medonho de uma coisa tão chata e insignificante que se eu pudesse, jogava uma porra de uma bomba atômica nesta desgraça!

Pois bem, meu amor é fatal, de um veneno suave e apimentado, que queima os lábios e desidrata a alma, mas como eu não sou um anjinho com uma cara de idiota cuspindo água pela boca numa fonte ridícula, bato as asas e bye bye neném. E não me venha com ‘porquês?’ que, dificilmente, você vai me entender.

Um punhado de gosma verde, uma pitada de pó de coração, duas xícaras de sonhos inúteis, uma colher de chá daquela pasta de carinho e uma de caminhada-na-beira-da-praia, dois litros de uma noite de sexo parte II, mexe bastante até ficar aquela coisa escabrosa e grudenta, unta uma panela com aquela farinha especial que mamãe trouxe da Colômbia e voilà, meia hora depois sái alguma coisa parecida com nós dois. Não gostou da receita? Então dá aquele CTRL+P, limpa a bunda e joga no vaso.

E, se na hora do desespero você vier me chamar, não sei se eu te atendo não, viu! Ah! Tá bom, eu atendo, mas só porque não sou como você.

Vou te segurar com força pelos braços e te olhar nos olhos, porque gosto de olhar nos olhos e navegar em almas alheias; não estou nem-aí para o Presidente da República porque aquele gnomo miserável com nove dedos não está nem aí para-mim-tam-bém. E pronto, enojei disso tudo aqui, vou dar-lhe um chute nos ovos pra ver se ele, no seu terceiro reinado, não deixa nossos vizinhos nos chutarem a bunda de novo.

Eita, sente só, no rádio começou a tocar aquela musica idiota que você adora e que você sempre faz questão de aumentar o som do carro e dançar – mesmo sentada, quando ela começa a tocar. Eu seria capaz de cortar os cabos de ligação na esquina anterior antes de ir te buscar em casa. Parece sinistro, não? Pois é, mas eu não faria isso mesmo com você, é que adoro aquele poperot no seu ritmo. Mas acho que agora você não me entendeu em nada mesmo.

Áaaaaai! Pu-ta mer-da! e o lance é esse mesmo e se você não quiser, fala logo! Mas depois não volte atrás, porque eu também não vou resistir. E se você pensa que só porque eu te acho um mosquitinho na bunda da vaca (e por isso mesmo aquela agonia frenética que a faz balançar o rabo o dia inteiro) eu vou deixar você mamar nas minhas tetinhas, pode tirar o seu par de asas da chuva ou então vou te dar uma cagada feroz, então aproveita porque a chuva ainda não começou e aquela diarréia miserável que está me dissolvendo há dois meses não bateu ainda hoje.

E só porque tenho vários amores, simultaneamente e em harmonia, aí você pensa que eu não bato uma pra você. Não, não é tão embaraçoso lidar com isso quanto você pensa, e o seu espaço na varanda já está garantido, porra! Sendo que o que tenho a receber é só uma infinita parte do que eu realmente necessito; e é assim porque aqui dentro tudo soa diferente, as batidas, o ritmo, o eu; eu já sinto a diferença desde o dia que aquela maçã caiu na minha cabeça. Temos tanto em comum e ainda assim tão diferentes. E um não quer compromisso; o outro, nada disso.

Por favor! Por favor! Por favor! Não me tente hoje, seu boneco está precisando de um pouco de ar para se manter em pé, tenho certeza que lhe sou mais útil quando estou inflado. E, sabe? Já não estou nem aqui há muito tempo. Esses conceitinhos medíocres e ultrapassados numa contramão fudida em pleno meio-dia de uma segunda feira na marginal Fernandes Lima. Bem, você certamente não faz idéia de quantas horas de vídeo já deu pra editar aqui na minha cabecinha de melão, mas não só porque você consegue ser esse ser armado – com duas quarenta e cinco embainhadas na cintura, se revirando na cama como uma louca e, de cabeça baixa, olhar predador, me pede que eu te sirva um drink bem gelado, mas só o drink mesmo, porque as cerejas você já têm; é que lhe tenho muito prazer. Estranho isso, porque é só um pequeno trailer e o lançamento da mega-produção será às 17hs, no dia do meu funeral. Não. Não espere que eu te mande um convite. Mas aparece por lá, o Buffet deve ser ótimo, e pelo menos alguma coisa você vai ter pra comer por lá.
Agora olhe bem; mas presta atenção mesmo. É; aqui, bem dentro dos meus olhinhos. Não, meu bem, é do outro lado e um pouco mais pra cima. Porque tudo é muito confuso e tudo pode soar diferente se você inventar de peidar nesse momento fudido justamente agora que eu queria realmente te dizer alguma coisa que lhe possa ser útil pelos próximos cinco minutos dessa sua vida canalha e cheia de aventuras.

É que só porque eu sou doente você me julga diferente; e se eu for, por acaso, a forma mais desprovida dessa essência humana rídicula e degradante? Sinceramente!? Eu acho até que você gosta disso! Eu não sou nada disso, não! Mas não inventa de me ligar depois da meia-noite numa sexta-feira quando eu estiver quase acordado usufruindo daquele bode mortal na minha cama com todas as luzes da casa apagadas ouvindo o som dos carros passarem na rua.

Hoje vou aparecer off-line o dia inteiro porque eu estou numa ressaca miserável até na cabeça dos dedos porque tem uns dois meses que eu não bebo nada que não contenha um teor alcoólico um pouco mais elevado, e, certamente a culpa não é do garçom! Quero um beijo com mel, o quarto dos fundos e uma cama que é pra gente se abraçar e ficar de bobeira o resto do inverno ali deitados ouvindo os pinguinhos da chuva tilintando nas telhas de barro colocadas uma a uma ali só pra gente poder ficar zen. Aliás, esquece toda essa merda e vai cultivar fungos no teu quintal porque tem gente que quer comprar; e o playboy idiota que você tanto diz amar está fudido porque o chamaram para participar do ‘miss quinta categoria’ e ele tem uma grande chance de levar o maior prêmio da televisão brasileira e você continua fingindo ser mais forte do que ele realmente sabe que você é, e por isso eu seria capaz de te desejar uma morte sinistra, meio que assim, te apagando do juízo.

Íu, sái fora, nem vai pensando que ganhou um espaço muito maior que o meu nariz empinado pode alcançar, porque eu também só posso tentar me aproximar pela metade de um olhar quarenta e três flambado na vodka, e depois ainda ter coragem para lhes dizer não depois de uma surra a três sob a luz de velas.

Então, quer saber? Vou ligar meu som, encher um copo de whisky - sem gelo, ficar nu, sentar, colocar os pés para cima e deixar os ovos balançarem, sintonizar aquele Pink Floyd no ‘vol. 60’ e vou tentar te esquecer comendo ameixa na minha varanda numa segunda-feira fudida depois de ter feito amor com você o fim de semana inteiro. Ah! Por sinal, depois você me explica que porra é essa expressão ‘fazer amor’. Porque meus pais me disseram, antes de eu sair de casa, que o amor, essa coisa quase extraterrestre, tão incerto e desconhecido tanto quanto quem é Deus, brota numas cachoeiras que nascem lá no alto dos Andes, em meio ao frio e nuvens e neve. É. Inclusive eles me disseram que lá tem um anjinho daqueles de pedra bem pequenos, bem idiotas e gordinhos que cospem esse tal de amor numa poça que transborda montanha abaixo; e nem se iluda, porque ele evapora antes de desaguar no lago que corre aqui atrás de casa.

Bem… voltamos a nossa programação normal.

terça-feira, 29 de abril de 2008

permita-se

Porque querer
E insistir neste querer
Sem saber se há poder

Não sou para se ter
Nenhum objeto qualquer
Não nasci para pertencer

Posso até ser
Se você deixar que seja
Para que sejamos então

quarta-feira, 26 de março de 2008

Metamorfoseante

Acordo de mau-humor
Sobrancelhas franzidas sempre
Olhos semi-aberto porque a claridade do dia os afetam por demais
Daí você já pode concluir o que me levar a ser um cara que adora a noite
Mas sempre de olhos bem abertos

Sou um ser pensante,
Aliás, detesto tudo que não pense ou não me leve a pensar,
Sempre pra frente, sempre pensando, compartilhando e aprendendo.

Sou angustiado por natureza,
Muitas idéias sempre! Vivo num eterno “brainstorm”
Por isso muitas vezes o silêncio

Deixei para trás muitas coisas
Por opção, por ocasião, por necessidade, por imposição
De uma forma ou de outra a gente sempre acaba se adaptando e descobre que Charles Darwin, de uma forma ou de outra, estava certo em suas afirmações... precisamos sobreviver!

Muitas das coisas que vivi lá atrás, trago comigo sempre
Mesmo que estejam guardadas dentro de um bauzinho azul com um cadeado
Vez ou outra me pego relendo minhas lembranças e revivendo o que lembrei com a máxima precisão...
Sou a soma de tudo que fui... a mutação de um ser

Adoro trabalho... preciso participar e ajudar
Mas também preciso de férias a cada seis meses
É o tempo máximo que consigo tolerar-me numa rotina... mesmo que progressista
Chega uma hora que começo a dar “tilt”
E daí em diante o cérebro funde...

Mas preciso mais ainda de som, praia, campo e montanha
Preciso de um dia claro, boas ondas no mar e uma galera pra tirar uma onda
Preciso de verde, rede, cavalgar, vacas e cheiro de bosta de vaca e um churrasco de vaca cagona...
Preciso de serra, caminhar entre arvores, ouvir os pássaros bem de perto, barulho de água caindo, cachoeira e acampamento...
Preciso de bebida, cigarro e... the doors topado “nos último”, pode ser também led zeppelin ou raul... mas se não tiver, adoraria djavan

Sou simples
Não tenho frescuras e detesto quem tem... e me desculpem os frescos!
Meu traje: chinelos, bermudas e regatas... sem muito ti ti ti

Fui pobre... mas pobre mesmo
Não que eu queira dizer que hoje eu seja rico, mas com certeza sou bem menos pobre do que era antes

Sou lutador e perseverante
E por toda essa luta e perseverança que aprendi a ter, “the Oscar goes to...” meu pai e minha mãe, que nunca desistiram de seguir em frente mesmo diante de tantas barreiras e puxadas de tapete... a eles a minha eterna gratidão! Por terem insistido e apostado em mim e me fazer olhar melhor para o mundo, para mim e por eu ser um Ser que Pensa!
A minha querida irmã... toda a cumplicidade e o carinho que um ser humano pode ter... inclusive todos os defeitos com os quais temos que aprender a conviver – minha eterna aprendiz...
Não consigo dedicar somente um parágrafo de três ou quatro linhas para eles porque eles contribuíram com 50% para o que sou...

Ou outros 50%... foi tipo “do by your self”

Aprendi a gostar de lugares sem muitas pessoas, sem gritaria, no máximo um sonzinho legal no background e uma cerva bem relax...
Tenho aversão a locais com Babado Novo, Chiclete com Banana, Asa de Águia e coisas parecidas com “é o bicho é o bicho”, “a dança da manivela”... e se passarem na minha porta é ovada na certa... acho essa uma das formas de me lembrar de como eu ainda sou uma criança, um menino... vou ficar idoso e jogando ovo em trio elétrico... (risos)
Tá! Tudo bem! Eu admito que raramente eu vou pra esses conglomerados de suor, gente demais embriagada demais e cheiro de lança-perfume no ar... mas é só pra eu não me sentir cafona de mais ou um radical extremista!

Gosto de me apaixonar... e viver um love story
Mas no que concerne ao coração... humm
Não gosto nem de mexer nisso!
Até porque essa não é a hora.

Gosto dos beijos mais intensos
Dos perfumes mais marcantes
Das loucuras mais proibidas
Dos desejos mais latentes
Das dores mais amenas
Dos momentos mais intensos
Das risadas mais altas
Do silencio mais marcante
Do olhar mais profundo
Da beleza mais sublime
E tenho os sonhos mais reais que um sonhador pode ter

“Eu sou, eu vou, eu quero e eu vou conseguir”
Esse é o meu lema e parte do que sou: Perseverança
Não me gabo disso, mas acho bacana...
Quando quero alguma coisa, sai da frente

Gosto de jogar abertamente
Não gosto de movimentos bruscos ou suspeitos perto de mim
Estou sempre atento a qualquer movimento, pessoa ou objeto
Sou extremamente visual, principalmente a noite

Sou realista e sonhador; trancados dentro de um quarto escuro
Penso, sonho... e tento realizar...
Aprendi a admitir minhas derrotas e aceita-las com serenidade
Aprendi a defender minhas opiniões e opções...
E quem não gostar... aprenda a aceitar com serenidade
Não sou 100% oposição...
Também aprendi a assimilar outros pontos de vistas
A fazer sínteses e que o melhor método é o da tentativa e erro; salvo seguras previsões

Sou amigo. Tenho amigos.
Para se contar a toda hora,
Daqueles eternos e irmãos...
Muitos deles estão afastados outros tão próximos...
Mas vivos o suficiente para que eu lembre exatamente como eles são e de como eu os amo... independentemente de distância

Filhos. Na verdade filha...
A gente nunca imagina o que nós representamos para os nossos pais até que, de repente, somos pai, mãe, professores de um Ser que simplesmente É.
É como se tudo e todos os nossos motivos e esforços passassem a ser por, para, na intenção, por causa de... são nossas referências, do que fomos, somos e seremos... tudo depende de, e é por, e será para... não há como fugir... e tudo o que há em nós passa a ser eles e deles.

Adoro conversar em um ritmo,
Sorrir, dançar, cantar e ouvir... tudo em seu ritmo
A própria vida tem o dela...

...e por isso sou feito de vida e de natureza;
Sempre fui essa metamorfose ambulante que aprendi a ser...
Sou o que sou, o que penso e o que digo...
O que é muito melhor do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo!

allys 29.09.06

terça-feira, 25 de março de 2008

Reencontro

;Havíamos desistido daquela nossa situação, eu pensei em esquecê-la, mas por ingenuidade não percebi era impossível esse feito. Metamorfoseei várias e várias vezes, me escondendo em meu casulo e tornando a liberdade ao anoitecer. Precisei de energia, água e comida, mas sem saber onde sequer procurar. Procurava uma linguagem simples que atendesse perfeitamente o meu ser, sem me atentar para o velho dicionário Aurélio da Língua Portuguesa que me observava inusitadamente a cada rabiscada.
Tranqüila e embriagadamente eu seguia meu caminho, fiz dezenas de cursos e amizades, me envolvi com quem me deu oportunidade e ganhei todas as mulheres que Eu quis. Por uma dezena me deixei cair em tentação sabendo que era arriscado de mais para seguir em frente. Apaixonadamente perdido encontrava o que eu queria quase sempre sem se dar conta de que faltava uma última peça em meu quebra-cabeça.
Esticava o tempo e retorcia o mar, por não ter idéia onde funestamente eu iria te encontrar. Por certo vários foram nossos encontros. Nos tornamos guepardos caçadores nas savanas concretas, um atrás do outro. Tu me aguardavas em ti; em mim, eu não sabia onde me encontrar. Sempre caído por aí sobre a mesa de um botequim qualquer não me faltavam línguas para pensar o que eu queria te dizer.
Nosso tempo ia ficando parado e o futuro, seguindo o passado, ia correndo atrás do próprio rabo. Eu que não queria uma dor de cabeça infernal numa sexta-feira após o expediente. Mas tudo vinha em minha direção. Lá na frente eu sequer imaginei com seria essa sensação.
Pesei. Já me extrapolavam as inúmeras cartelas de lexotan para aliviar aquela insônia ou qualquer dor. Não queria baixar a cabeça para tudo; era somente para me reservar ao direito de Estar Só.
Pisquei, e lá estava parado à porta da tua casa com uma latinha de coragem na mão esperando que me empurrasse escada acima. Fiquei diante de tua porta e por mais de uma era fiquei com os pés plantados em teu jardim. Não saberia o que me aguardava atrás da porta número 03. Resolvi arriscar. As mãos estavam tão tremulas que não consegui apertar menos que 03 vezes a campainha. “E agora o que será de mim? O que eu digo?” Pensei. Mas senti que a porta abria lentamente. Antes o olho-mágico já havia escurecido... quando eu “Por favor... – No andar de baixo!” Nossa. Não entendi por que diabos um olho-mágico, caolho, possuía clarividência.
“Ok. Vou descer”. E lá ia eu descendo a escadaria, parecendo uma romaria, batendo as pontas dos dedos polegares com os indicadores querendo acalmar a pressa. Abriste a porta antes mesmo que eu pusesse qualquer parte de mim ante o objetivo de te chamar.
Respirei. O sangue na bochecha já fervia escaldantemente na bofetada que eu esperaria levar. Mas não. Em troca recebi um olhar tão intrigante que me intriguei mesmo depois do “ENTRA”! Céus, eu me perguntava, mas era quase que uma afirmação, eu sou louco!?
Não sabia por onde começar. Em tese o começo já havia acontecido e terminado, apenas eu que não havia me situado, embora houvesse passado muito tempo apurando o acontecido.
Eu disse!
Ela sentiu que fui honesto.
Fui sem qualquer pretensão de satisfazer minhas intenções.
Não pedi. Nem reagi.
Só queria que em silêncio ela me dissesse o que sentia.
Foi quando ela me respondeu, muito pausadamente, num ápice bucólico mesclado com uma respiração um tanto medieval, como se já tivesse também ensaiado toda aquela situação e tudo o que diria se ali estivesse. Tomou um pouco de ar e com a voz tremula e pausada me disse:
“E eu que só queria te abraçar.
Poder te beijar e estar ao teu lado.
Compartilhar... um sorriso e... e... e... chorar as tuas lágrimas.
Não queria nada... nada além do impossível.
Acariciar tua pele macia e sentir o teu aroma suave e másculo... como a vontade que dá no cheiro de café ao amanhecer.
Queria te acompanhar nessa sua jornada incrível e perigosa”.
Por um segundo eu senti como o despencar em vão livre, sem fim, como naqueles sonhos que sonhamos caindo de algum lugar, até que, na mesma sonolenta e indescritível sensação, eu caí nestas palavras.
“Só queria estar do seu lado para cuidar de você”.
E eu que apenas queria te rever com um aperto de mão seguido de dois beijos frios em cada lado de tua face glacial, sem relutar numa despedida em um gostoso abraço forte e apertado com um imensurável sabor de quero mais.
Saí dali desacordado e sem noção de onde eu estava.
Passei dias num processo de RW e FF em minha memória, sem saber que eu estava desencadeando um processo de inquietude silenciosa e que cedo ou tarde eu não poderia controlar.
Eu queria desistir. Não poderia cavar tão fundo atrás de algo, não com as minhas próprias mãos. Foi quando eu decidir te ligar e pedir uma ajuda nessa minha busca. Nos encontramos novamente, te expliquei meus motivos e senti que estarias nessa comigo.
Desenterramos tudo o que era comum a ambos, nesse meio termo soubemos em estilo release o que andávamos fazendo no período que estivemos escondidos em nossa salva-vida. Chegamos ao fundo e nos encontramos lá embaixo. Eu comigo e ela consigo. Nos confessamos e percebemos que algo extremamente burocrático nos impedia de dar o próximo passo. Tão latente quanto permanecera em mim, tive absoluta certeza de que eu também estava impregnado naquela sensação que sentira ao estarmos a sós.
Paramos.
Não havia sequer condições de um olhar olho-no-olho. Havia o medo de um pecado. Pecado tão desejado e prazeroso, mas tão fundamentado para aquele momento.
Por um instante eu te abraçava, te beijava o pescoço vagarosamente e sentia teu corpo suspirar em busca do meu. Eu ouvia teu corpo me chamar sem nenhum sentido quando o meu buscava o teu. Naquele fechar de olhos, eu te devorei. Te beijava por completo acariciando teu corpo tremulo e colado ao meu. Retirava pau-sa-da-men-te tua camiseta preta e enquanto minha língua insaciável saboreava seu pescoço amadeirado; agarrava tua cintura e comprimia teu corpo ao meu enquanto nós podíamos sentir... te larguei. Não sei como, mas consegui. Pretendia não sair nunca daquele pensamento. Mas haviam as conseqüências ainda por vir; para ambos.
- Só para acabar logo com isso...
- Não me procures mais!
- Eu vou fazer o mesmo.
- Irei tentar. Mas se aquela vontade me tentar... ainda assim vou continuar resistindo, mesmo não querendo.
- É sério...
- Só farei isso quando tiver certeza de uma liberdade que não me faça parar.
- Eu não posso agora... vamos esperar mais um pouco... vamos dar um rumo pra os nossos caminhos, fazer nossas escolhas independente, e caso algum dia aconteça...
- Isso! Continuarei te desejando da mesma maneira
- Ai meu deus...
- Mesmo sabendo que não poderei tê-la em meus braços ao menos agora que o desejo está tão latente em mim...
- Quem sabe um dia... mas vamos acalmar as coisas que eu já não estou me segurando...
- Eu sei desse dia... mas agora devo me contentar somente em imaginar dezenas de cenas desse nosso vídeo-clipe surreal... aquele “contentamento descontente”...
- Você é demais!
- ...que meu corpo pede o teu e minha mente ilimitada não se permite não ir mais além.
- Então vá... eu te permito ir e espero que me permitas também, com a condição de que nunca se esqueças de que através de um abraço a gente pode muito mais além do que simplesmente estar lá...
- ...com certeza. Não tenhas duvida de que você foi desejado da mesma forma
- Quero você; e quero agora!




Allys 06.09.06

segunda-feira, 17 de março de 2008

A indefinição

Preso.
Prisão.
Abstinação.
Saudade.
Cala-frio (shhhh).
Desilusão.

Vontade.
Dever.
Coragem.
Falta de coragem.

Nascer.
Crescer.
Viver, apodrecer e morrer.

Resistir.
Desistir.

Rever.
Reviver.
Abraçar.
Relembrar.

Cansaço.
Destreza.
Limpeza.

Relaxa.
Tenta.
Levanta.
Anda.
Nada de cama.

Beijo.
Tesão.
Alucinação.
Sexo, sexo, sexo.

Alma.
Viva.
Sobreviva.
Calma.

Lucidez.
Nada disso.
Embriagues.

Passa.
Trapaça.
Desgraça.
Sem graça.

Esconder.
Achar.
Mentir.
Nunca afirmar.
Sempre negar.

Libertar.
Querer.
Poder.
Dever.
Não fazer, por quê?

Eu quero.
Faço.
Arregaço.
Qualquer bagaço.
E até cabaço.

Pena.
Foi pequena.
Menina linda não me afugenta.
Vem cá do meu ‘ladin’

Tortura.
Puxa tudo.
Tira essas gorduras.
Põe puta pra julgar.
Ministro pra dar.
E presidente pra estudar.

Quero garantir o meu lugar.
Que nenhuma quenga perneta venha disputar.
Se quiser, vá pra lá.
Não tem nem hímen.

Aqui jaz, alguém que ainda faz.

Estádio de futebol lotado.
Pebolim para otário.
Distração para alienado.
Eu ganho dinheiro é aqui do outro lado.

Avesso.
Contrário às avessas.
De cabeça para baixo.
De cabeça para baixo.
Mundo muito óbvio.
Dor de cabeça.
Remédio para enxaqueca.
E um torrador de neurônio para mim.
Por-fa-vor.

Não ouviu?
Eu sou obrigado?
Como assim?
Não tem nada a ver?
Quer tentar me entender?
Não tenta?
Porque não tenta?

Vem me salvar.
Me tira desse lugar.
Quero tentar amar.
Quero tentar beijar.
Não precisa transar.
Basta me salvar.
Tenho saudade.
Muita saudade.
Infinita saudade.
Não desiste.
Não me deixa desistir.
Não precisa que seja assim.
É só me tocar.
Pra que eu possa sentir.
Sem ter que mentir.
Sem ter que negar.
Não me deixa implorar.
Mas se você quiser.
Só se quiser, eu IM-PLO-RO!
Sei que não vai ser preciso.
Sabes que vou contigo.
Eu vou me afogar.
Mas só se você não me procurar.
Sinto que vens.
Sinto aquele bolor gélido no estomago.
Calafrios.
É você.
Sei que estás aqui.
Olha!
Senti o seu cheiro, seu aroma de canela e mel.
É você.
Estou aqui.

Num dia eu nasci, logo n’outro morri.
Não sei quanto tempo ficarei aqui.
Mas terei que partir.
Com ou sem.
Terei que ir.
Meu caminho, só eu posso seguir.
Mas a vida sem ti.
É como embuchar sem parir.




Allys 09.01.06