quarta-feira, 21 de maio de 2008

Ibope em alta

Ele tinha plena consciencia que havia uma certa disputa no ar. Aquela figura surpreendente não era aficcionado por este tipo de situação. Aos domingos, aquele clássico Gugú x Faustão na tv, enquanto caía aquele temporal e aquelas árvores sobre os carros – mas como o dele ainda estava na garagem, não tinha motivos para se preocupar.

Sabia viver e todos os becos por onde andar, essa mala sem alça era das mais difíceis de se carregar. Só ele para se tolerar. Porque ele sempre andava a frente de tudo e não dava muito tempo para o observarem. O tempo era só uma limitação imposta pelo próprio homem para sua própria inquisição.

E, todos os dias, se tinha um certo tipo de assunto que ele procurava fugir eram aqueles que poucas pessoas sabem fazer outras esquecerem só com um olhar. E corria mesmo, para um abraço, um beijo, um suco de laranja na esquina, ou um jantar na casa de caralho com um prato repetido num dia em que o próprio quase vai à brasa.

Pois como nunca gostou de dominar, não queria para si os ares da prisão. Ficar ali, trancado naquela caixa preta da tv servindo de audiência para quem quer que viesse a passar, definitivamente, não foi jogado aqui para isso; digo, não só para isso. Aliás, deixa guardado de baixo de uma conchinha que é melhor.

Não adianta falar, outras idéias dificilmente ali permanecerão. E esse camarada mantinha o foco por trás da coisa, enquanto cantavam, aquele apresentador ficava remoendo o que estava ali por trás; é, realmente, é um tanto paranóico. Não há com o que se preoculpar.

Macaco no circo. Objeto falante. Papagaio de pirata em beira de cachoeira. Carro de som em véspera de eleição. Picolé caseiro Caicó. Peixinhos de aquário de shopping center. A mulher do sanduíche natural na beira da praia. Vendedor de cigarro de porta de boate. Anunciante de programa policial. Uma piriquita galega na primeira página de Caras. Vendedor de veneno do centro da cidade. Pinguim de geladeira.

Todo mundo presta atenção. Em todos esses clichês idiotas.

E quando o bom mesmo é ser diferente. Não me refiro aquelas diferenças iguais que agora tentam ser iguais para serem diferentes novamente. É ser diferente em essência, e não por almejar essa diferença, mas por ser, naturalmente, assim. E isso já veio no pacote, incluso, sem adicionais nem taxa de assinatura mensal.

Ali é preciso controle para não se ver esvair uma gota daquela inocência, nem uma lágrima derramar. Só porque ele sente aquele ardor diferente de quando alguém parece gostar da gente e aquele enjôo de marinheiro velho que entra no mar pela primeira vez depois de um tubarão ter-lhe arrancado a perna. As duas.

Não, esse ser não vai lhe conceder o ar da graça só pra que lhe tragas a desgraça; só que não o incomoda a solidão e, de certo, conhece onde incomoda mais. E pode levar a carne que você trouxe para o churrasco que ele mata a primeira gata que aparecer na rua só com aquele olhar e faz a festa ir até depois do ano novo.

Some com essas idéias de privatização, monopólio cardíaco; pra longe daqui com tudo isso. Lá dentro é quase que uma sociedade anônima de capital-sentimental aberto. As quotas não tem preço, nem dono certo, porque tudo é bastante democrático e nem precisa ligar pra dizer quem será eliminado. Agora nem queira manter só para si um parque tombado pelo patrimônio da serenidade por puro egoismo; não faz sentido.

Tesão. Excitação. Desejo. Coisa de pele. Escalada nas paredes. Fim de festa. Aquela pegação. Os olhares trocados a noite inteira. Contato. Cheiro. Indiscrição. Vontade. Tentação. Um flerte ridículo que só quem vive não nota. A nota depois da conta. Amassos. Parede. Rede. Beco de casa de praia. Suspiros ao pé do ouvido. Murmuros. Sussurros. A mão naquio. Aquilo na mão. Barrigas quentinhas. Juntas. Abraço forte. O mútuo. Safadeza. Lábios. Línguas. Beijos. Sexo. Sexo.

E, sabe? Isso até que rende uma boa audiência.

Um dia sim, no outro quem sabe? Se ele tenta correr dele mesmo! Fugir do eu lírico veterano de longas datas ali. Vai fugir do posto, com gosto. Evitar aquela sabatina diária que ele tanto odeia. Não precisa que ninguém lhe faça qualquer prece, oração; nada disso, vai saber muito bem qual o caminho que vai percorrer.

Agora eu te deixo de lado. Pra você ficar só daí, sentado na sua nova poltrona de couro, assistindo o que eu, Eu, aqui de dentro vou tentar te dizer, e tem que ser alguma coisa que não seja fútil. Vou tentar te distrair que é pra ver se você cái em si. Ou em mim. Porque eu te desejo tanto daqui de dentro de você. E olhe que a gente se conhece tão bem, não é? E as vezes eu me pergunto porque tu, eu, ainda somos os mesmos. Eu que nem consigo te olhar nos olhos quando acordo de manhã. E sinto aquela saudade inesgotável mesmo sendo teu hóspede por tanto tempo. E lhe quero tão bem, tão mal, tão eu. Se eu não te conhecesse tão bem, eu diria que você é exatamente como eu deveria ser, assim, como você.

É, caríssimo. Eu também tenho aquela vontade, aquela necessidade de te colocar numa caixinha de Sedex num domingo de manhã; porque as vezes me encho de você, de mim e de tudo que eu não vejo, e aí a vontade que tenho é fazer você sumir sem me deixar aqui ao léu.

Luto por nós dois, te carrego em ti nessa guerra sem fim entre o que você pensa que é e quem eu realmente sou, contra tudo o que resta. E quando falo que estou naquela bad fudida no meio da semana só porque ainda não consumi nada que me deixasse um pouco mais esperto é porque eu estou aceitando sua sugestão pra prosseguir ainda aqui na grade da programação de alguma maneira.

Sei lá. Tava afim de… sei lá! Fugir da cidade. Queria fugir do mundo, pode? Fazer uma trouxa de roupa e carregar ela na cabeça e sair andando por aí. Rapaz... pode! Puxa a cordinha, espera parar e pede pra descer e espero que não passe do ponto senão você cái num buraco negro; ou entao em Plutão… e lá deve ser bem menos frio que aqui, ó! Principalmente a vida. Acho que lá já é primavera! Deve ser lindo. Aqueles jardins plutônicos (ou seriam platônicos?), não importa, a própria definição não define a beleza própria da coisa em si e isso não é, de fato, importante. Enfim. Acho que como eu via nos livros, Plutão, agora um ex-planeta (nossa.... esse lance de ex-planeta é ótimo), roxinho, com aquelas nuvenzinhas feitas de plumas estelares; aposto que lá deve ter um céu lindo de morrer! Sabe, mas deve mesmo! Eu também, já imaginei isso. Imagina a cena: ao invés do pôr do sol com aquele crepúsculo suicida como acontece aqui ou a aurora nos pólos; lá tem que ser violeta, púrpura, cor de pecado, erotismo no ar, o ódio sensual, em todo o planeta, os grãos de areia copulando à beira-mar, lindo; o clima perfeito pra descer no ponto errado. Vou sonhar com isso mais tarde, gravar e colocar aquele playback no ar que é pra ver se você consegue me sintonizar. E nem invente de aparecer por lá, porque eu ando pensando em cuidar um pouco mais de mim… mas hoje talvez eu me permita me negligênciar um pouquinho só pra te receber; mas é só por hoje, porque amanhã eu começo a tentar de novo ser melhor sem você.

3 tentaram definir:

Suku disse...

Quando você quiser, eu arrumo as malas e a gente foge pra Plutão. Se precisar, eu te ajudo a cuidar de ti. :*

Anônimo disse...

olas

valeu pelo comentario no fataltino.

vou conhecer vc aos poucos por aqui...

faustina

Karen disse...

amorzinho poeta :*