terça-feira, 27 de maio de 2008

Declarações virtuais

Não me comovem suas declarações virtuais
Escorrendo em minhas janelas
Fervendo lá fora esse seu desejo antigo
De pular na chuva e brincar comigo
E eu logo te digo
Que enjoei desse frio
Dessa sua friagem querendo me resfriar

É isso!
Vai chuva
Pra longe daqui
Tem muita gente precisando de teu suor em mim
Vai regar outros e novos corações
Vai sem ressentimentos
Fica feliz pelo que fizeste brotar aqui dentro

Vai
Deixa vir logo a primavera
Com tudo que vem com ela
É que quero novas cores
Pra poder pintar meus jardins
De nuvens azuis sobre mim
E porque quero ver novos amores florir

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Ibope em alta

Ele tinha plena consciencia que havia uma certa disputa no ar. Aquela figura surpreendente não era aficcionado por este tipo de situação. Aos domingos, aquele clássico Gugú x Faustão na tv, enquanto caía aquele temporal e aquelas árvores sobre os carros – mas como o dele ainda estava na garagem, não tinha motivos para se preocupar.

Sabia viver e todos os becos por onde andar, essa mala sem alça era das mais difíceis de se carregar. Só ele para se tolerar. Porque ele sempre andava a frente de tudo e não dava muito tempo para o observarem. O tempo era só uma limitação imposta pelo próprio homem para sua própria inquisição.

E, todos os dias, se tinha um certo tipo de assunto que ele procurava fugir eram aqueles que poucas pessoas sabem fazer outras esquecerem só com um olhar. E corria mesmo, para um abraço, um beijo, um suco de laranja na esquina, ou um jantar na casa de caralho com um prato repetido num dia em que o próprio quase vai à brasa.

Pois como nunca gostou de dominar, não queria para si os ares da prisão. Ficar ali, trancado naquela caixa preta da tv servindo de audiência para quem quer que viesse a passar, definitivamente, não foi jogado aqui para isso; digo, não só para isso. Aliás, deixa guardado de baixo de uma conchinha que é melhor.

Não adianta falar, outras idéias dificilmente ali permanecerão. E esse camarada mantinha o foco por trás da coisa, enquanto cantavam, aquele apresentador ficava remoendo o que estava ali por trás; é, realmente, é um tanto paranóico. Não há com o que se preoculpar.

Macaco no circo. Objeto falante. Papagaio de pirata em beira de cachoeira. Carro de som em véspera de eleição. Picolé caseiro Caicó. Peixinhos de aquário de shopping center. A mulher do sanduíche natural na beira da praia. Vendedor de cigarro de porta de boate. Anunciante de programa policial. Uma piriquita galega na primeira página de Caras. Vendedor de veneno do centro da cidade. Pinguim de geladeira.

Todo mundo presta atenção. Em todos esses clichês idiotas.

E quando o bom mesmo é ser diferente. Não me refiro aquelas diferenças iguais que agora tentam ser iguais para serem diferentes novamente. É ser diferente em essência, e não por almejar essa diferença, mas por ser, naturalmente, assim. E isso já veio no pacote, incluso, sem adicionais nem taxa de assinatura mensal.

Ali é preciso controle para não se ver esvair uma gota daquela inocência, nem uma lágrima derramar. Só porque ele sente aquele ardor diferente de quando alguém parece gostar da gente e aquele enjôo de marinheiro velho que entra no mar pela primeira vez depois de um tubarão ter-lhe arrancado a perna. As duas.

Não, esse ser não vai lhe conceder o ar da graça só pra que lhe tragas a desgraça; só que não o incomoda a solidão e, de certo, conhece onde incomoda mais. E pode levar a carne que você trouxe para o churrasco que ele mata a primeira gata que aparecer na rua só com aquele olhar e faz a festa ir até depois do ano novo.

Some com essas idéias de privatização, monopólio cardíaco; pra longe daqui com tudo isso. Lá dentro é quase que uma sociedade anônima de capital-sentimental aberto. As quotas não tem preço, nem dono certo, porque tudo é bastante democrático e nem precisa ligar pra dizer quem será eliminado. Agora nem queira manter só para si um parque tombado pelo patrimônio da serenidade por puro egoismo; não faz sentido.

Tesão. Excitação. Desejo. Coisa de pele. Escalada nas paredes. Fim de festa. Aquela pegação. Os olhares trocados a noite inteira. Contato. Cheiro. Indiscrição. Vontade. Tentação. Um flerte ridículo que só quem vive não nota. A nota depois da conta. Amassos. Parede. Rede. Beco de casa de praia. Suspiros ao pé do ouvido. Murmuros. Sussurros. A mão naquio. Aquilo na mão. Barrigas quentinhas. Juntas. Abraço forte. O mútuo. Safadeza. Lábios. Línguas. Beijos. Sexo. Sexo.

E, sabe? Isso até que rende uma boa audiência.

Um dia sim, no outro quem sabe? Se ele tenta correr dele mesmo! Fugir do eu lírico veterano de longas datas ali. Vai fugir do posto, com gosto. Evitar aquela sabatina diária que ele tanto odeia. Não precisa que ninguém lhe faça qualquer prece, oração; nada disso, vai saber muito bem qual o caminho que vai percorrer.

Agora eu te deixo de lado. Pra você ficar só daí, sentado na sua nova poltrona de couro, assistindo o que eu, Eu, aqui de dentro vou tentar te dizer, e tem que ser alguma coisa que não seja fútil. Vou tentar te distrair que é pra ver se você cái em si. Ou em mim. Porque eu te desejo tanto daqui de dentro de você. E olhe que a gente se conhece tão bem, não é? E as vezes eu me pergunto porque tu, eu, ainda somos os mesmos. Eu que nem consigo te olhar nos olhos quando acordo de manhã. E sinto aquela saudade inesgotável mesmo sendo teu hóspede por tanto tempo. E lhe quero tão bem, tão mal, tão eu. Se eu não te conhecesse tão bem, eu diria que você é exatamente como eu deveria ser, assim, como você.

É, caríssimo. Eu também tenho aquela vontade, aquela necessidade de te colocar numa caixinha de Sedex num domingo de manhã; porque as vezes me encho de você, de mim e de tudo que eu não vejo, e aí a vontade que tenho é fazer você sumir sem me deixar aqui ao léu.

Luto por nós dois, te carrego em ti nessa guerra sem fim entre o que você pensa que é e quem eu realmente sou, contra tudo o que resta. E quando falo que estou naquela bad fudida no meio da semana só porque ainda não consumi nada que me deixasse um pouco mais esperto é porque eu estou aceitando sua sugestão pra prosseguir ainda aqui na grade da programação de alguma maneira.

Sei lá. Tava afim de… sei lá! Fugir da cidade. Queria fugir do mundo, pode? Fazer uma trouxa de roupa e carregar ela na cabeça e sair andando por aí. Rapaz... pode! Puxa a cordinha, espera parar e pede pra descer e espero que não passe do ponto senão você cái num buraco negro; ou entao em Plutão… e lá deve ser bem menos frio que aqui, ó! Principalmente a vida. Acho que lá já é primavera! Deve ser lindo. Aqueles jardins plutônicos (ou seriam platônicos?), não importa, a própria definição não define a beleza própria da coisa em si e isso não é, de fato, importante. Enfim. Acho que como eu via nos livros, Plutão, agora um ex-planeta (nossa.... esse lance de ex-planeta é ótimo), roxinho, com aquelas nuvenzinhas feitas de plumas estelares; aposto que lá deve ter um céu lindo de morrer! Sabe, mas deve mesmo! Eu também, já imaginei isso. Imagina a cena: ao invés do pôr do sol com aquele crepúsculo suicida como acontece aqui ou a aurora nos pólos; lá tem que ser violeta, púrpura, cor de pecado, erotismo no ar, o ódio sensual, em todo o planeta, os grãos de areia copulando à beira-mar, lindo; o clima perfeito pra descer no ponto errado. Vou sonhar com isso mais tarde, gravar e colocar aquele playback no ar que é pra ver se você consegue me sintonizar. E nem invente de aparecer por lá, porque eu ando pensando em cuidar um pouco mais de mim… mas hoje talvez eu me permita me negligênciar um pouquinho só pra te receber; mas é só por hoje, porque amanhã eu começo a tentar de novo ser melhor sem você.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Um drink, por favor!

Agora anda, passa, porque a fila anda pra todos os lados. E olhe que eu andava muito bem, obrigado, antes mesmo de você chegar. Não entendo alguns detalhes dessa sua personalidade excêntrica, mas se for só isso o que eu sinto, está ótimo, tenho olhinhos de gatinho recém-nascido. E olhe que Eu até que pensei em fugir com uma filha-duma-puta, sair correndo do altar e ir para um abraço no mundo.

Nem adianta me ligar, todo manso, como cão depois que morde o dono. Merdas cagadas ao cú não voltam jamais; e não pense que seu ânus é como o fotolog.

As vezes sou sensível demais e uma pequena palavra pode soar como uma bala inteira na cabeça. Mas, danem-se esses terremotos e esse novo toque polifônico chatinho do meu celular aqui do lado. Nem posso imaginar qual desespero que te leva nessa insistência em querer me falar. Eu te entendo, porra! Preciso gritar assim pra você entender que nada vai te tirar de dentro de mim?! E se eu te disser que as janelinhas dessa carcaça vulgar estão abertas, não lhe seria estranho? Sim, estranho. E aos olhos de quem não conseguiu se distrair, é difícil alcançar uma mosca que passou voando aqui e me deu aquela agonia fininha, e um ódio medonho de uma coisa tão chata e insignificante que se eu pudesse, jogava uma porra de uma bomba atômica nesta desgraça!

Pois bem, meu amor é fatal, de um veneno suave e apimentado, que queima os lábios e desidrata a alma, mas como eu não sou um anjinho com uma cara de idiota cuspindo água pela boca numa fonte ridícula, bato as asas e bye bye neném. E não me venha com ‘porquês?’ que, dificilmente, você vai me entender.

Um punhado de gosma verde, uma pitada de pó de coração, duas xícaras de sonhos inúteis, uma colher de chá daquela pasta de carinho e uma de caminhada-na-beira-da-praia, dois litros de uma noite de sexo parte II, mexe bastante até ficar aquela coisa escabrosa e grudenta, unta uma panela com aquela farinha especial que mamãe trouxe da Colômbia e voilà, meia hora depois sái alguma coisa parecida com nós dois. Não gostou da receita? Então dá aquele CTRL+P, limpa a bunda e joga no vaso.

E, se na hora do desespero você vier me chamar, não sei se eu te atendo não, viu! Ah! Tá bom, eu atendo, mas só porque não sou como você.

Vou te segurar com força pelos braços e te olhar nos olhos, porque gosto de olhar nos olhos e navegar em almas alheias; não estou nem-aí para o Presidente da República porque aquele gnomo miserável com nove dedos não está nem aí para-mim-tam-bém. E pronto, enojei disso tudo aqui, vou dar-lhe um chute nos ovos pra ver se ele, no seu terceiro reinado, não deixa nossos vizinhos nos chutarem a bunda de novo.

Eita, sente só, no rádio começou a tocar aquela musica idiota que você adora e que você sempre faz questão de aumentar o som do carro e dançar – mesmo sentada, quando ela começa a tocar. Eu seria capaz de cortar os cabos de ligação na esquina anterior antes de ir te buscar em casa. Parece sinistro, não? Pois é, mas eu não faria isso mesmo com você, é que adoro aquele poperot no seu ritmo. Mas acho que agora você não me entendeu em nada mesmo.

Áaaaaai! Pu-ta mer-da! e o lance é esse mesmo e se você não quiser, fala logo! Mas depois não volte atrás, porque eu também não vou resistir. E se você pensa que só porque eu te acho um mosquitinho na bunda da vaca (e por isso mesmo aquela agonia frenética que a faz balançar o rabo o dia inteiro) eu vou deixar você mamar nas minhas tetinhas, pode tirar o seu par de asas da chuva ou então vou te dar uma cagada feroz, então aproveita porque a chuva ainda não começou e aquela diarréia miserável que está me dissolvendo há dois meses não bateu ainda hoje.

E só porque tenho vários amores, simultaneamente e em harmonia, aí você pensa que eu não bato uma pra você. Não, não é tão embaraçoso lidar com isso quanto você pensa, e o seu espaço na varanda já está garantido, porra! Sendo que o que tenho a receber é só uma infinita parte do que eu realmente necessito; e é assim porque aqui dentro tudo soa diferente, as batidas, o ritmo, o eu; eu já sinto a diferença desde o dia que aquela maçã caiu na minha cabeça. Temos tanto em comum e ainda assim tão diferentes. E um não quer compromisso; o outro, nada disso.

Por favor! Por favor! Por favor! Não me tente hoje, seu boneco está precisando de um pouco de ar para se manter em pé, tenho certeza que lhe sou mais útil quando estou inflado. E, sabe? Já não estou nem aqui há muito tempo. Esses conceitinhos medíocres e ultrapassados numa contramão fudida em pleno meio-dia de uma segunda feira na marginal Fernandes Lima. Bem, você certamente não faz idéia de quantas horas de vídeo já deu pra editar aqui na minha cabecinha de melão, mas não só porque você consegue ser esse ser armado – com duas quarenta e cinco embainhadas na cintura, se revirando na cama como uma louca e, de cabeça baixa, olhar predador, me pede que eu te sirva um drink bem gelado, mas só o drink mesmo, porque as cerejas você já têm; é que lhe tenho muito prazer. Estranho isso, porque é só um pequeno trailer e o lançamento da mega-produção será às 17hs, no dia do meu funeral. Não. Não espere que eu te mande um convite. Mas aparece por lá, o Buffet deve ser ótimo, e pelo menos alguma coisa você vai ter pra comer por lá.
Agora olhe bem; mas presta atenção mesmo. É; aqui, bem dentro dos meus olhinhos. Não, meu bem, é do outro lado e um pouco mais pra cima. Porque tudo é muito confuso e tudo pode soar diferente se você inventar de peidar nesse momento fudido justamente agora que eu queria realmente te dizer alguma coisa que lhe possa ser útil pelos próximos cinco minutos dessa sua vida canalha e cheia de aventuras.

É que só porque eu sou doente você me julga diferente; e se eu for, por acaso, a forma mais desprovida dessa essência humana rídicula e degradante? Sinceramente!? Eu acho até que você gosta disso! Eu não sou nada disso, não! Mas não inventa de me ligar depois da meia-noite numa sexta-feira quando eu estiver quase acordado usufruindo daquele bode mortal na minha cama com todas as luzes da casa apagadas ouvindo o som dos carros passarem na rua.

Hoje vou aparecer off-line o dia inteiro porque eu estou numa ressaca miserável até na cabeça dos dedos porque tem uns dois meses que eu não bebo nada que não contenha um teor alcoólico um pouco mais elevado, e, certamente a culpa não é do garçom! Quero um beijo com mel, o quarto dos fundos e uma cama que é pra gente se abraçar e ficar de bobeira o resto do inverno ali deitados ouvindo os pinguinhos da chuva tilintando nas telhas de barro colocadas uma a uma ali só pra gente poder ficar zen. Aliás, esquece toda essa merda e vai cultivar fungos no teu quintal porque tem gente que quer comprar; e o playboy idiota que você tanto diz amar está fudido porque o chamaram para participar do ‘miss quinta categoria’ e ele tem uma grande chance de levar o maior prêmio da televisão brasileira e você continua fingindo ser mais forte do que ele realmente sabe que você é, e por isso eu seria capaz de te desejar uma morte sinistra, meio que assim, te apagando do juízo.

Íu, sái fora, nem vai pensando que ganhou um espaço muito maior que o meu nariz empinado pode alcançar, porque eu também só posso tentar me aproximar pela metade de um olhar quarenta e três flambado na vodka, e depois ainda ter coragem para lhes dizer não depois de uma surra a três sob a luz de velas.

Então, quer saber? Vou ligar meu som, encher um copo de whisky - sem gelo, ficar nu, sentar, colocar os pés para cima e deixar os ovos balançarem, sintonizar aquele Pink Floyd no ‘vol. 60’ e vou tentar te esquecer comendo ameixa na minha varanda numa segunda-feira fudida depois de ter feito amor com você o fim de semana inteiro. Ah! Por sinal, depois você me explica que porra é essa expressão ‘fazer amor’. Porque meus pais me disseram, antes de eu sair de casa, que o amor, essa coisa quase extraterrestre, tão incerto e desconhecido tanto quanto quem é Deus, brota numas cachoeiras que nascem lá no alto dos Andes, em meio ao frio e nuvens e neve. É. Inclusive eles me disseram que lá tem um anjinho daqueles de pedra bem pequenos, bem idiotas e gordinhos que cospem esse tal de amor numa poça que transborda montanha abaixo; e nem se iluda, porque ele evapora antes de desaguar no lago que corre aqui atrás de casa.

Bem… voltamos a nossa programação normal.