terça-feira, 25 de março de 2008

Reencontro

;Havíamos desistido daquela nossa situação, eu pensei em esquecê-la, mas por ingenuidade não percebi era impossível esse feito. Metamorfoseei várias e várias vezes, me escondendo em meu casulo e tornando a liberdade ao anoitecer. Precisei de energia, água e comida, mas sem saber onde sequer procurar. Procurava uma linguagem simples que atendesse perfeitamente o meu ser, sem me atentar para o velho dicionário Aurélio da Língua Portuguesa que me observava inusitadamente a cada rabiscada.
Tranqüila e embriagadamente eu seguia meu caminho, fiz dezenas de cursos e amizades, me envolvi com quem me deu oportunidade e ganhei todas as mulheres que Eu quis. Por uma dezena me deixei cair em tentação sabendo que era arriscado de mais para seguir em frente. Apaixonadamente perdido encontrava o que eu queria quase sempre sem se dar conta de que faltava uma última peça em meu quebra-cabeça.
Esticava o tempo e retorcia o mar, por não ter idéia onde funestamente eu iria te encontrar. Por certo vários foram nossos encontros. Nos tornamos guepardos caçadores nas savanas concretas, um atrás do outro. Tu me aguardavas em ti; em mim, eu não sabia onde me encontrar. Sempre caído por aí sobre a mesa de um botequim qualquer não me faltavam línguas para pensar o que eu queria te dizer.
Nosso tempo ia ficando parado e o futuro, seguindo o passado, ia correndo atrás do próprio rabo. Eu que não queria uma dor de cabeça infernal numa sexta-feira após o expediente. Mas tudo vinha em minha direção. Lá na frente eu sequer imaginei com seria essa sensação.
Pesei. Já me extrapolavam as inúmeras cartelas de lexotan para aliviar aquela insônia ou qualquer dor. Não queria baixar a cabeça para tudo; era somente para me reservar ao direito de Estar Só.
Pisquei, e lá estava parado à porta da tua casa com uma latinha de coragem na mão esperando que me empurrasse escada acima. Fiquei diante de tua porta e por mais de uma era fiquei com os pés plantados em teu jardim. Não saberia o que me aguardava atrás da porta número 03. Resolvi arriscar. As mãos estavam tão tremulas que não consegui apertar menos que 03 vezes a campainha. “E agora o que será de mim? O que eu digo?” Pensei. Mas senti que a porta abria lentamente. Antes o olho-mágico já havia escurecido... quando eu “Por favor... – No andar de baixo!” Nossa. Não entendi por que diabos um olho-mágico, caolho, possuía clarividência.
“Ok. Vou descer”. E lá ia eu descendo a escadaria, parecendo uma romaria, batendo as pontas dos dedos polegares com os indicadores querendo acalmar a pressa. Abriste a porta antes mesmo que eu pusesse qualquer parte de mim ante o objetivo de te chamar.
Respirei. O sangue na bochecha já fervia escaldantemente na bofetada que eu esperaria levar. Mas não. Em troca recebi um olhar tão intrigante que me intriguei mesmo depois do “ENTRA”! Céus, eu me perguntava, mas era quase que uma afirmação, eu sou louco!?
Não sabia por onde começar. Em tese o começo já havia acontecido e terminado, apenas eu que não havia me situado, embora houvesse passado muito tempo apurando o acontecido.
Eu disse!
Ela sentiu que fui honesto.
Fui sem qualquer pretensão de satisfazer minhas intenções.
Não pedi. Nem reagi.
Só queria que em silêncio ela me dissesse o que sentia.
Foi quando ela me respondeu, muito pausadamente, num ápice bucólico mesclado com uma respiração um tanto medieval, como se já tivesse também ensaiado toda aquela situação e tudo o que diria se ali estivesse. Tomou um pouco de ar e com a voz tremula e pausada me disse:
“E eu que só queria te abraçar.
Poder te beijar e estar ao teu lado.
Compartilhar... um sorriso e... e... e... chorar as tuas lágrimas.
Não queria nada... nada além do impossível.
Acariciar tua pele macia e sentir o teu aroma suave e másculo... como a vontade que dá no cheiro de café ao amanhecer.
Queria te acompanhar nessa sua jornada incrível e perigosa”.
Por um segundo eu senti como o despencar em vão livre, sem fim, como naqueles sonhos que sonhamos caindo de algum lugar, até que, na mesma sonolenta e indescritível sensação, eu caí nestas palavras.
“Só queria estar do seu lado para cuidar de você”.
E eu que apenas queria te rever com um aperto de mão seguido de dois beijos frios em cada lado de tua face glacial, sem relutar numa despedida em um gostoso abraço forte e apertado com um imensurável sabor de quero mais.
Saí dali desacordado e sem noção de onde eu estava.
Passei dias num processo de RW e FF em minha memória, sem saber que eu estava desencadeando um processo de inquietude silenciosa e que cedo ou tarde eu não poderia controlar.
Eu queria desistir. Não poderia cavar tão fundo atrás de algo, não com as minhas próprias mãos. Foi quando eu decidir te ligar e pedir uma ajuda nessa minha busca. Nos encontramos novamente, te expliquei meus motivos e senti que estarias nessa comigo.
Desenterramos tudo o que era comum a ambos, nesse meio termo soubemos em estilo release o que andávamos fazendo no período que estivemos escondidos em nossa salva-vida. Chegamos ao fundo e nos encontramos lá embaixo. Eu comigo e ela consigo. Nos confessamos e percebemos que algo extremamente burocrático nos impedia de dar o próximo passo. Tão latente quanto permanecera em mim, tive absoluta certeza de que eu também estava impregnado naquela sensação que sentira ao estarmos a sós.
Paramos.
Não havia sequer condições de um olhar olho-no-olho. Havia o medo de um pecado. Pecado tão desejado e prazeroso, mas tão fundamentado para aquele momento.
Por um instante eu te abraçava, te beijava o pescoço vagarosamente e sentia teu corpo suspirar em busca do meu. Eu ouvia teu corpo me chamar sem nenhum sentido quando o meu buscava o teu. Naquele fechar de olhos, eu te devorei. Te beijava por completo acariciando teu corpo tremulo e colado ao meu. Retirava pau-sa-da-men-te tua camiseta preta e enquanto minha língua insaciável saboreava seu pescoço amadeirado; agarrava tua cintura e comprimia teu corpo ao meu enquanto nós podíamos sentir... te larguei. Não sei como, mas consegui. Pretendia não sair nunca daquele pensamento. Mas haviam as conseqüências ainda por vir; para ambos.
- Só para acabar logo com isso...
- Não me procures mais!
- Eu vou fazer o mesmo.
- Irei tentar. Mas se aquela vontade me tentar... ainda assim vou continuar resistindo, mesmo não querendo.
- É sério...
- Só farei isso quando tiver certeza de uma liberdade que não me faça parar.
- Eu não posso agora... vamos esperar mais um pouco... vamos dar um rumo pra os nossos caminhos, fazer nossas escolhas independente, e caso algum dia aconteça...
- Isso! Continuarei te desejando da mesma maneira
- Ai meu deus...
- Mesmo sabendo que não poderei tê-la em meus braços ao menos agora que o desejo está tão latente em mim...
- Quem sabe um dia... mas vamos acalmar as coisas que eu já não estou me segurando...
- Eu sei desse dia... mas agora devo me contentar somente em imaginar dezenas de cenas desse nosso vídeo-clipe surreal... aquele “contentamento descontente”...
- Você é demais!
- ...que meu corpo pede o teu e minha mente ilimitada não se permite não ir mais além.
- Então vá... eu te permito ir e espero que me permitas também, com a condição de que nunca se esqueças de que através de um abraço a gente pode muito mais além do que simplesmente estar lá...
- ...com certeza. Não tenhas duvida de que você foi desejado da mesma forma
- Quero você; e quero agora!




Allys 06.09.06

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