Oi?
Preciso começar assim mesmo?
Pois bem, te esclareço desde logo que isso não é uma carta de amor ou de desculpas ou para tentar reconciliar algo irreconciliável; portanto, não guarde expectativas.
Na verdade, na verdade, acho que é muito mais uma reflexão a respeito de “tudo” que aconteceu entre “nós”. Sim, “tudo” e “nós” entre aspas mesmo, porque não sei bem ao certo se existiu alguma coisa de verdade, se existiu não chegou a ser tudo... e, além disso, não sei se vale dizer “nós”, já que nos tornamos eu-e-você juntos – tá, tudo bem que isso possa ser “nós”, mas o dicionário não entende nada além do simples “nós” (1 Designa a primeira pessoa do plural de ambos os gêneros e serve de sujeito ou regime de preposições. 2 Emprega-se pelo singular, quando alguém fala como órgão de uma coletividade, ou quando o escritor, por modéstia, quer tornar menos saliente a sua individualidade... entende?).
Para o começo te digo somente que é uma pena... finalzinho trágico dessa eu-e-você história! Bastante cinematográfica mesmo! Votemos a cena:
- o casal... não, o casal não, os dois, que não eram mais “nós”, tiram as malas do carro, tentam descarregar as bagagens da carroceria do carro, ele espera ajuda, ela o apressa, quer as malas dela primeiro, logo aquela mais ao fundo, retira seus pertences de dentro do carro, ele entrega as bagagens dela; com seus pertences nas mãos, ela o olha.
Ele: você vai ligar pra alguém vir te buscar?
Ela: (silêncio)
Ele: (interrogação)
Ela: (some indignada)
Ele: (pensa que ela foi embora)
Ela: (vai para o térreo e chora indignada)
Ele: (retira todas as outras bagagens e sobe para o apartamento)
Ela: (deixa as malas no térreo e sobe para o apartamento, ainda indignada)
Ele: (que já tinha jogado a toalha, congelou ao vê-la)
- ela pede o telefone e liga para a mãe que não pode ir buscá-la; ele se oferece para levá-la em casa, ela aceita. Eles descem depois de alguns minutos e entram no carro.
Ela: liga o som (ele liga e ela já aumenta o volume)
- silêncio. Eles param na porta da casa dela.
Ele: depois eu trago as outras coisas.
Ela: que coisas?
- ela desce do carro e a conversa continua enquanto ela tira as malas do banco traseiro.
Ele: os doces, vou separar também um pernil pra trazer pra vocês...
Ela: (interrompendo) meu casaco está dentro da sua mala...
Ele: (interrompendo também) eu deixo junto com as outras coisas... quer ajuda? (com as malas)
Ela: não.
- as portas do carro se fecham, ela atravessa a rua puxando a bagagem, ele acelera e vai embora.
Sabe, agora refletindo sobre tudo, acho que sempre houve entre eu-e-você um eterno silêncio, como aquele silêncio que sempre incomoda. Acho até que a gente se ama tanto que não nos suportamos com tanto amor.
Amor, amor, amor... esse sentimento tão nobre que sufoca, oprime mas encanta. Tudo mágico e encantador com jantares a luz de velas e vinho e amor... como duas crianças que se apaixonam pela primeira vez e como tudo que é bom, também agarrou, sugou e beijou como ninguém. Nós gritávamos de amor, e era visível nos nossos olhares sorridentes, tão carentes de amor, e tanto amor, e tanto amor que o mundo ficou minúsculo pra nós dois. Era sim, pequeno de mais para nós, os dois que eram um só. Chego a ter saudade disso.
Mas teve um momento... em que alguma coisa aconteceu e nos tirou da nossa órbita. E o que é que pode acontecer pra nos levar aonde chegamos hoje? Como se abala um amor inabalável? Ou não é amor, ou esse tal amor era muito frágil, ou não havia nada disso, de amor.
Nem tudo pelo caminho são rosas, nem toda rua tem pedrinhas de brilhante e não é todo amor que passa por ela. Lembra quando a gente falava que iria se amar pra sempre... quando seria isso? Fomos tão intensos e magníficos que não precisou dizer que terminou... o que pode significar que jamais terminaremos e que também jamais ficaremos juntos outra vez. Acho que o nosso “sempre” era isso... sempre um do outro sem deixarmos de ser eu-e-você mesmos.
É assim que acontece com os astros. Nascem com uma explosão, e vão se enchendo de luz. Aí chega uma hora que ele tá tão iluminado mas tão iluminado que explode – e daí não nasce mais nada, só poeira. Nossa última explosão foi o silêncio.
Eu senti, e você, sentiu também naquela hora que você desceu do carro? Realmente o silêncio falou mais que qualquer palavra. Por sinal, não acredito que exista uma que possa definir tudo ou o nada que passou – se é que passou. Mas se ainda é, é bem miudinho como essas letrinhas aqui, dançando no papel sem pensar.
Aí eu vou caminhando pela casa e começo a recolher tudo que me lembra você, tentando rasgar seu cheiro impregnado na parede do meu quarto, retirando suas roupas de perto das minhas e apagando as nossas fotografias para que nada de você fique no meu caminho... porque eu quero continuar amando e eu não posso deixar você me atrapalhar com essa presença ainda tão forte aqui.
E já que eu não pude te deixar nada de bom, te deixo aqui o meu melhor... as minhas palavras. Como você vivia dizendo que eu nunca te escrevi nada romântico, nem uma carta, nem um bilhete de amor, te deixo esta carta como prova de tudo ou nada que existiu entre eu-e-você; porque amor, quando é demais, não acaba, silencia – exatamente como esta carta.
Qual o futuro do PapodeHomem e do Instituto PDH?
Há 4 semanas
5 tentaram definir:
Que declaração :~
PQP! Mandou super bem!
Essa carta me lembrou as coisas que meu ex-namorado têm escrito para mim. Mas, no nosso caso, não tem mais volta. Com o meu namoro posso dizer que "Foi eterno enquanto durou, foi sincero o nosso amor, mas chegou ao fim".
Espero que as coisas fiquem bem para vocês!
Ah, obrigada pela visita ao blog. Volte pra conferir a saga do carnaval!
www.mulherzinhasim.blogspot.com
www.formspring.me/mulherzinha
Eu imagino o excesso de vazio, ou de algo (ou de nada) que está aí dentro, portando diante da sua carta de amor, romântica, emocionante depois de tanto tempo de namoro entre vocês, venho lembrar que meu ombro é o mesmo, meu amor por você é o mesmo e de alguma maneira eu não vou deixar nunca esse amor silenciar. Espero que você fique bem, que vocês fiquem bem, a vida é tão assustadora às vezes.
Estou tentando não entrar na fase do silêncio - mas passando pela fase em que falar demais não adianta mto. Silêncio não faz meu estilo, não me veste...mas falar tanto cansa, ofende, desgasta...enfim. Qual a temperatura certa?
#Clichê, mas o post me lembrou a música..."mas eu sei que alguma coisa aconteceu, tá tudo assim, tão diferente...se lembra qdo a gente, chegou um dia acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o pra sempre, sempre acaba..."
Oi, Allyson!
Vim aqui elogiar seu comentário bem humorado no blog 3x30 e, quando cheguei aqui, dei de cara com esse post... Perdi o rumo do que eu ia dizer... rs.
Que texto lindo. Intenso, como o que vc descreveu ter vivido, e, ao mesmo tempo, silencioso... pq há coisas q não precisam ser ditas.
Muito bonito mesmo!
Parabéns!
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